sábado, 24 de julho de 2010

Lula se emociona e provoca adversários em Pernambuco

Lula se emociona e provoca adversários

Em evento em Caetés, sua cidade natal, presidente chegou a chorar. Mas não deixou de alfinetar a oposição

Aline Moura
alinemoura.pe@dabr.com.br

Caetés - Tempo para lágrimas, tempo para críticas. Em Caetés, município agrestino onde nasceu e cumpriu agenda administrativa ontem, antes de participar do seu primeiro ato de campanha em Pernambuco, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) viveu dois momentos distintos. Um de emoção, quando chegou a marejar os olhos diante de quase mil pessoas, e outro de provocação aos adversários do governador Eduardo Campos (PSB), de quem disse ter "pena, por morrerem de inveja do que dá certo".


Petista disse ter pena dos concorrentes de Eduardo Campos, "por morrerem de inveja do que dá certo" Fotos: Inês Campelo/DP/D.A Press
Acostumado a dar escorregadelas e fazer palanque político em eventos do governo federal, Lula até que tentou se policiar, ontem, no lançamento do programa Um Computador por Aluno, na escola Luiz Pereira Júnior. Mas não escondeu o fato de ter escolhido lançar o programa em Caetés por critério político e não técnico. "Ele [o ministro da Educação, Fernando Haddad] falou que tem um monte de critério (para indicar uma cidade), mas eu falei que não tinha problema nenhum. Se alguém perguntar paravocê (ministro) qual o critério que entrou em Caetés, você diga que foi o critério Lula, de querer trazer o computador para a cidade em que eu nasci, para que essas crianças tenham mil vezes mais oportunidades do que eu tive na idade deles", disse o presidente.

Ciente de que entregar cerca de quatro mil computadores para adolescentes de escolas públicas em Caetés, um dos menores municípios do estado, já era um gesto político capaz de trazer retorno eleitoral, o presidente evitou outros exageros. Preferiu deixar na boca de outras pessoas os maiores elogios. Foi assim que ele foi às lágrimas durante o discurso de Damirez Raquel Ferreira Lopes, 15 anos, estudante do 2º ano da Escola estadual Luiz Pereira Júnior. "Você é meu exemplo vivo e me faz pensar em ir além, me estimula a não desistir", afirmou a jovem.

Pouco depois de Haddad mostrar a importância do programa, o presidente falou para a plateia que o esperou por cerca de três horas. Não foi seu discurso mais contagiante. Mas ele estava emocionado e até lembrou os tempos de menino, quando achava que o açude de Vargem Comprida (então distrito de Garanhuns) era mar.

Em entrevista à imprensa, após o evento, Lula afirmou (sem citar nomes) que os adversário do governador Eduardo Campos deveriam sair dos gabinetes, no Recife, e colocar o pé na estrada para ver as obras realizadas pelo governo federal no estado. Lula se referiu às críticas feitas pelo senador Jarbas Vasconcelos (PMDB) à demora do governo para concluir a transposição do São Francisco e a Ferrovia Transnordestina. Segundo Lula, uma ferrovia que custa R$ 6 bilhões e tem mais de dois mil quilômetros, passa por muitos entraves para sair do papel. Quanto à transposição, ele afirmou que os opositores deveriam ir até o canal, no São Francisco. "Quando esse canal estiver pronto, até Dom Pedro (o imperador), vai dizer lá de cima: 'Obrigada, baixinho, por fazer o que eu não consegui'", declarou.

Um encontro exclusivo com a família


Antes de lançar o programa Um Computador por Aluno, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) arrumou um tempinho para conversar com familiares do Agreste e do Sertão, por mais de trinta minutos. Recebeu cerca de 50 parentes num espaço reservado da escola Luiz Pereira Júnior, todos vindos de Caetés, Garanhuns, Verdejante e Buíque (municípios do interior pernambucano). A idade dos que estavam presentes para ver o parente ilustre variava de 8 a 80 anos. Eram primos legítimos, primos distantes, parentes dos parentes. Gente orgulhosa e já sentindo saudade do presidente que mais visitou o interior do Nordeste, região sempre esquecida em outras gestões.

Seu Sebastião Ferreira, 59 anos, contou ter orgulho de ser "primo legítimo" do presidente, que está em ritmo de despedida do mandato. Segundo ele, a alegria de ter um familiar importante não é pelo fato de o petista ajudar a família, com a força do cargo que tem, mas por se importar com todas as pessoas mais carentes. Questionado se Lula ajudava financeiramente afamília, que continua vivendo humildemente, ele respondeu de pronto. "Ele ajuda o país inteiro, não parente", observou. Sebastião acrescentou estar disposto para votar na presidenciável Dilma Rousseff (PT), por entender que ela corresponde às expectativas de Lula. "Se ele lança uma candidata é porque tem confiança na capacidade dela", declarou.

Misturada em meio aos moradores da cidade que foram ver o conterrâneo, uma mulher, que não era parente de Lula, também chamou a atenção da reportagem. Chama-se Quitéria Francisca Pereira, de 77 anos, "aposentada há mais de 100", segundo relatou em tom de brincadeira. Estava esperando o momento de entrar para ver Lula lançar o programa que promete mudar a realidade dos estudantes de Caetés, com inclusão digital. Ela contou ter conhecido o presidente quando ele ainda era criança, bem como a mãe dele, dona Lindu.

Segundo dona Quitéria, o petista era travesso, "quando menino", mas ajudava a mãe plantar mandioca. Por esse motivo e todo esse esforço, de acordo com ela, o sucesso de Lula é mais do que merecido. Indagada sobre o que achava do presidente, ela ressaltou que já sentia saudade: "A gente fica bem alegre quando lembra dele. Sabe aquela pessoa que se prepara para ser padre? É a mesma coisa de ser presidente. Todos dois ajudam as pessoas. O padre aconselha para não errar e o presidente é tudo".

Foco voltado para os evangélicos Campanha

Em evento hoje, Dilma tenta conquistar fiéis, assim como Serra e Marina
Ivan Iunes
ivaniunes.df@dabr.com.br

A candidata à Presidência da República Dilma Rousseff (PT) testará o discurso religioso hoje para tentar avançar sobre uma parcela do eleitorado estimada em 34 milhões de pessoas. Com as pesquisas de opinião indicando uma disputa cada vez mais polarizada entre a petista e José Serra (PSDB), as duas campanhas direcionaram o arsenal político nas últimas semanas para conseguir o apoio do maior número possível de instituições evangélicas. A equipe de Dilma nomeou até um representante informal para atuar junto ao segmento: o pastor da Assembleia de Deus e deputado federal Manoel Ferreira (PR-RJ). Para rivalizar com a liderança religiosa, o ninho tucano tenta estreitar laços com José Wellington Bezerra da Costa, outro pastor da Assembleia.

Assim que subir ao púlpito do principal templo da Assembleia de Deus em Brasília, Dilma deve fazer um discurso escapista às principais controvérsias que o plano de governo petista tem com os religiosos. A ideia é fugir do que todos os estrategistas consideram um campo minado. Durante a semana, o bispo de Guarulhos (SP), Luiz Gonzaga Bergonzini, criticou publicamente o posicionamento da candidata em questões como a descriminalização da maconha, a união homoafetiva e o aborto.

O plano traçado por Ferreira e Dilma para dobrar os evangélicos é empurrar esses espinhos para o Legislativo. "Nós já tivemos entendimentos prévios e a ministra concordou que esses temas devem ser resolvidos pelo Congresso Nacional e não pelo Palácio do Planalto. Não discriminamos ninguém, mas queremos ter a liberdade de dizer que nós não concordamos com a maioria dessas propostas", afirma Ferreira. A expectativa do articulador político de Dilma é de que 70% das igrejas evangélicas estejam representadas no encontro de hoje. "Estamos preocupados em buscar os outros segmentos das neopentecostais. Nosso segmento é um dos mais disputados porque temos fiéis muito bem domesticados e orientados", garante.

O maior embate de Ferreira, contudo, se dará dentro do próprio ninho religioso. Presidente da Convenção Nacional das Assembleias de Deus, o pastor trava uma queda de braço contra Wellington, chefe de outra corrente da igreja, a Convenção Geral das Assembléias de Deus no Brasil, que deve anunciar apoio a Serra. "Somos procurados quase que diariamente, tanto pelo pessoal do Serra quanto pelo da Dilma, mas ainda não temos uma decisão. Entre os fiéis, a Marina tem sido escolhida por muitos, exatamente por ter o discurso mais religioso das eleições", aponta o pastor Lélis Trajano, da Convenção Geral.

A entidade só aguardaria a formalização de um encontro de conselheiros para anunciar o apoio ao tucano. "A Convenção Geral vai apoiar a gente, o acerto está certo. Essa agenda religiosa da Dilma é inútil, o público evangélico não vai de Dilma, vai de Serra. Nossa única ameaça é a Marina, por pertencer aos quadros da Assembleia", analisa o coordenador de campanha do PSDB, Sérgio Guerra. Para tentar reverter essa desvantagem, Ferreira dedicou as últimas semanas ao contato com as principais representações evangélicas do país, atrás do apoio declarado a Dilma. Atualmente, ela só teve o voto declarado da Igreja Universal do Reino de Deus.

Fonte: Diário de Pernambuco

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