domingo, 28 de novembro de 2010

Escritor aos 12 anos

Escritor aos 12 anos

Edição de domingo, 28 de novembro de 2010

José Carlos dos Santos tem 12 anos e nunca enxergou. Mesmo assim, ele jamais perdeu a alegria. Ele sempre tem uma frase na ponta da língua para soltar na hora certa. Antes de entrevistá-lo, por exemplo, o pré-adolescente falou logo a seguinte frase: ´Anote aí no seu caderninho: Eu sou feliz`. Pedido atendido.

Esperto ao extremo, o garoto já escreveu um livro, Gugu, o Jabuti. Livro que, inclusive, foi exposto neste mês na Fliporto Infantil, em Olinda. Falante, Joseph, como é chamado carinhosamente, quis saber: ´Você vai colocar a minha foto no jornal? E o meu livro, dá para publicar?`. Na Escola Nilo Pereira o garoto é o xodó. ´Cadê o artista da escola?`, perguntou a diretora Damaris Diniz.

A escola possui uma sala especial com dois computadores programados para auxiliar o aprendizado de José Carlos. Além disso, há uma impressora para imprimir em braile e uma máquina Perkins (especial para escrita em braile). ´Temos recebido tudo o que precisamos para ter um ensino de qualidade para nossos alunos especiais`,garantiu Damaris.

Estudante da 5ª série do ensino fundamental, José Carlos ainda não sabe o que quer ser quando crescer: advogado ou veterinário. A deficiência visual não o impede de sonhar. ´Ele é totalmente independente. Anda sozinho, lancha, conversa com todo mundo`, disse a professora Núbia, que demonstrava um método de ensino quando foi interrompida: ´Deixa eu ver isso, professora?`, pediu Joseph, erguendo as mãos para tocar o objeto. Deu uma demonstração de que, para enxergar o mundo, nem sempre é preciso usar os olhos.

Fonte: Diário de Pernambuco

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Ficção e realidade se misturam na segunda noite do Festival de Brasília



(Foto: Divulgação)

26/11/2010 06h00 - Atualizado em 26/11/2010 06h00

Ficção e realidade se misturam na segunda noite do Festival de Brasília

Filho de Glauber Rocha exibiu ficção sobre aposentado no Rio de Janeiro. A rotina e as obssessões do cartunista Angeli foram tema de curta.

Jamila Tavares
Do DF TV

Cena de "Transeunte", de Eryk Rocha.



Não é novidade que as fronteiras entre ficção e documentário estão cada vez mais tênues no cinema, e os filmes exibidos na segunda noite da mostra competitiva do 43º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro reforçam essa tendência.

O longa “Transeunte”, de Eryk Rocha, acompanha de perto o renascimento de Expedito, um aposentado que perdeu o gosto de viver. “Ele está sem desejo, sem vontade de se relacionar com o mundo. Me pareceu curioso fazer isso no corpo de um homem velho”, afirmou o diretor em entrevista ao G1.

Filho de Glauber Rocha, Eryk é um premiado documentarista e está estreando na ficção com “Transeunte”, mas sem deixar de lado um forte vínculo com a representação da realidade na tela.

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Retratos da juventude são destaque na 1ª noite do Festival de Brasília 'Vou até morrer filmando', diz Carlos Reichenbach no Festival de Brasília “Não poderia ter feito esse filme sem ter feitos os documentários antes. A poética do filme incorporou a cidade como pano de fundo - a gente não fechou nenhuma rua, a gente jogava a cena dramática no espaço público. A realidade, o acaso transformou várias cenas que a gente fez. Os atores se misturaram com os transeuntes. É uma ficção amalgamada com o documentário, com o real.”

Os trabalhos como documentarista também influenciaram na escolha por retratar um anônimo, um personagem que começa o filme sem ser protagonista de sua própria vida. Em seus filmes anteriores, Eryk explorou a multidão, o anonimato da massa. “‘Transeunte’ foca em um indivíduo no meio dessa multidão e tem o desejo de entrar no corpo e na cabeça desse homem”, explicou.

Eryk nasceu em Brasília, mas mudou para o Rio de Janeiro com poucos meses de vida. Ele foi premiado com um Candango em 2006 pela montagem do curta “De Glauber para Jirges” e disse estar emocionado com a estreia no FBCB. “É emocionante apresentar um filme que está nascendo na cidade em que nasci. O lugar que a gente nasce diz muito sobre o que a gente é. E o filme fala sobre gestação, sobre nascimento.”


Cena de "Angeli 24 horas". (Foto: Divulgação)Angeli
Realidade e ficção também se encontraram no curta “Angeli 24 horas”, sobre o cotidiano de um dos cartunistas mais importantes do país. A diretora Beth Formaggini jogou luz sobre a obsessão de Angeli pelo trabalho e sobre o desafio diário que ele se propõe de ultrapassar as fronteiras da cultura pop e se renovar.

O mergulho no universo do criador de personagens icônicos como Rê Bordosa, Bob Cuspe e os Skrotinhos divertiu o público. “Cinema é invenção, é para pensar, para dançar. Agradeço ao Angeli que foi muito generoso e se expôs no filme" afirmou Beth antes da exibição do curta.

O outro curta da noite, “Contagem”, de Gabriel Martins e Maurilio Martins, também questionou os limites do que se convenciona chamar de realidade ao confrontar quatro versões diferentes sobre um fato que abala a tranquilidade do bairro Laguna, na cidade mineira de Contagem.

Na sexta-feira (26) serão exibidos o longa “Os Residentes”, de Tiago Mata Machado, e os curtas “Acercadacana”, de Felipe Peres Calheiros, e “Braxília” de Danyella Proença. A mostra competitiva do Festival de Brasília, que vai distribuir R$ 550 mil em prêmios, segue até o dia 29. Os vencedores serão anunciados no dia 30.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Caminhar 10 km por semana pode preservar o cérebro dos sintomas da velhice

Caminhar 10 km por semana pode preservar o cérebro dos sintomas da velhice

Gabriel Miranda - Redação Saúde Plena

Estudo feito por pesquisadores americanos e publicado na revista “Neurology” demonstra que caminhar por pelo menos 10 km por semana pode ser uma das coisas que as pessoas podem fazer para impedir o encolhimento do cérebro e combater a demência.

A pesquisa analisou cerca de 300 pessoas em Pittsburgh, que registraram quanto caminharam a cada semana, e mostrou que aqueles que andavam pelo menos 10 km tinham redução cerebral relacionada à idade menor que a das pessoas que caminhavam menos.

“O cérebro encolhe na fase mais avançada da idade adulta, o que pode causar problemas de memória. Nossos resultados devem incentivar experimentos que verificam se o exercício físico em idosos é uma abordagem promissora para prevenir a demência e o Alzheimer”, disse Kirk Erickson, da Universidade de Pittsburgh.

A equipe de Erickson realizou a pesquisa para averiguar se as pessoas que andam muito poderiam estar mais preparadas para combater as doenças da idade. Eles analisaram 299 voluntários que começaram o estudo livres de demência, e que registraram seus hábitos de caminhadas. Nove anos depois, os cientistas fizeram varreduras nos cérebros para medir o volume dos órgãos. Após quatro anos, eles realizaram testes para ver se algum participante sofreu prejuízo cognitivo ou demência. Os pesquisadores descobriram que as pessoas que caminhavam cerca de dez quilômetros por semana tinham metade do risco de desenvolver problemas de memória em comparação aos demais.

Eles disseram que mais estudos precisam ser realizados sobre os efeitos do exercício e a demência, mas na ausência de tratamentos eficazes para o Alzheimer, a caminhada pode ser uma alternativa. Nenhuma droga atual pode alterar a progressão da doença de Alzheimer, que afeta mais de 26 milhões de pessoas no mundo.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Atritos

Atritos


Roberto Crema*

Ninguém muda ninguém;
ninguém muda sozinho;
nós mudamos nos encontros.
Simples, mas profundo, preciso.

É nos relacionamentos que nos transformamos.
Somos transformados a partir dos encontros,
desde que estejamos abertos e livres
para sermos impactados
pela ideia e sentimento do outro.

Você já viu a diferença que há entre as pedras
que estão na nascente de um rio e as pedras que estão em sua foz?
As pedras na nascente são toscas, pontiagudas, cheias de arestas.
À medida que elas vão sendo carregadas
pelo rio, sofrendo a ação da água
e se atritando com as outras pedras,
ao longo de muitos anos,
elas vão sendo polidas, desbastadas.

Assim também agem nossos contatos humanos.
Sem eles, a vida seria monótona, árida.
A observação mais importante é constatar
que não existem sentimentos, bons ou ruins,
sem a existência do outro, sem o seu contato.

Passar pela vida sem se permitir
um relacionamento próximo com o outro,
é não crescer, não evoluir, não se transformar.
É começar e terminar a existência
Com uma forma tosca, pontiaguda, amorfa.

Quando olho para trás, vejo que hoje carrego em meu ser
várias marcas de pessoas extremamente importantes.
Pessoas que, no contato com elas, me permitiram ir dando forma ao que sou,
eliminando arestas, transformando-me em alguém melhor,
mais suave, mais harmônico, mais integrado.

Outras, sem dúvida, com suas ações e palavras me criaram novas arestas, que precisaram ser desbastadas.
Faz parte...Reveses momentâneos servem para o crescimento.
A isso chamamos experiência.

Penso que existe algo mais profundo,
ainda nessa análise. Começamos a jornada da vida como grandes pedras, cheias de excessos.
Os seres de grande valor, percebem que ao final da vida,
foram perdendo todos os excessos
que formavam suas arestas,
se aproximando cada vez mais de sua essência,
e ficando cada vez menores, menores, menores...

Quando finalmente aceitamos
que somos pequenos, ínfimos,
dada a compreensão da existência
e importância do outro,
e principalmente da grandeza de DEUS,
é que finalmente nos tornamos grandes em valor.

Já viu o tamanho do diamante polido, lapidado?
Sabemos quanto se tira
de excesso para chegar ao seu âmago.
É lá que está o verdadeiro valor...

Pois, DEUS fez a cada um de nós com um âmago bem forte
e muito parecido com o diamante bruto,
constituído de muitos elementos,
mas essencialmente de AMOR.
DEUS deu a cada um de nós essa capacidade,
a de AMAR...
Mas temos que aprender como.
Para chegarmos a esse âmago,
temos que nos permitir,
através dos relacionamentos,
ir desbastando todos os excessos
que nos impedem de usá-lo,
de fazê-lo brilhar.

Por muito tempo em minha vida acreditei
que amar significava evitar sentimentos ruins.
Não entendia que ferir e ser ferido,
ter e provocar raiva,
ignorar e ser ignorado
faz parte da construção do aprendizado do amor.

Não compreendia que se aprende a amar
sentindo todos esses sentimentos contraditórios e...
os superando. Ora, esses sentimentos simplesmente
não ocorrem se não houver envolvimento...
E envolvimento gera atrito.

Minha palavra final: ATRITE-SE!
Não existe outra forma de descobrir o AMOR.
E sem ele a VIDA não tem significado.


*Blog da Dinez

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Desafios e ameaças para gigantes

Desafios e ameaças para gigantes

Dois membros do governo Lula atacaram dois esteios do sistema capitalista global: a OTAN e o dólar como padrão internacional. Nelson Jobim, Ministro da Defesa, criticou a pretensão da OTAN de arvorar-se a intervir também no Atlântico Sul desconhecendo o status jurídico de países como o Brasil que tem 350 milhas de sua plataforma continental sob sua soberania. Já Meirelles, presidente do Banco Central, seguindo o ministro Guido Mantega, atacou a permanência do dólar como moeda padrão internacional, defendendo a idéia de uma nova moeda de referência.O curioso é que os dois são tidos como da cota conservadora do governo Lula. O artigo é de Beto Almeida

Beto Almeida

Num curtíssimo espaço de tempo, dois membros do governo Lula atacaram firmemente dois esteios do sistema capitalista global, em sua fase imperialista: a OTAN e o dólar como padrão internacional. Nelson Jobim, Ministro da Defesa, criticou a pretensão da OTAN de arvorar-se a intervir também no Atlântico Sul desconhecendo o status jurídico de países como o Brasil que tem 350 milhas de sua plataforma continental sob sua soberania. Já Meirelles, presidente do Banco Central, seguindo o Ministro Guido Mantega , atacou a permanência do dólar como moeda padrão internacional, defendendo a idéia de uma nova moeda de referência. O curioso é que os dois ministros – Meirelles também tem status de ministro - são membros do PMDB e tidos como da cota conservadora do governo Lula.

Seriam sinais do novo curso que o Brasil terá que enfrentar na Era Dilma ou da profundidade da crise do capitalismo global, expressa agora com a super emissão de 600 bilhões de dólares pelos EUA o que se constitui em verdadeira guerra de demolição e rapina da das economias da periferia? Ou ambas hipóteses?

Para se ter uma idéia da importância de ambos os posicionamentos, vale dizer, começando pelo lado monetário, que idéia semelhante é defendida hoje pelo Presidente do Irã, Mahmud Armadinejad, que durante anos vem denunciando a ditatorial emissão de dólar sem lastro pelos EUA como verdadeiros atos de delinqüência e banditismo internacionais. No mesmo discurso, perante a ONU, ele também defendeu que entidade adotasse para o próximo ano o slogan “Energia Nuclear pra Todos, Armas Nucleares para Ninguém”. Evidentemente, poucos deram ouvidos e a mídia, controladíssima pelo capital, sequer registrou.

Já o agudo enfrentamento de Nelson Jobim às pretensões intervencionistas dos EUA e da OTAN nos mares do Atlântico Sul foi acompanhado da defesa de que o Brasil e o subcontinente construam “ uma aparato dissuasório voltado para as ameaças extraregionais que lhes permitam dizer não quando for preciso dizer não”. Claro está, com a Marinha brasileira desarmada como está hoje - embora em fase de recuperação e reequipamento, reconheça-se - de nada adiantaria dizer não se não se pode assegurar com os meios concretos a defesa política da soberania. Como no tópico monetário, outro dirigente que também defendeu a constituição de uma Organização do Tratado do Atlântico Sul, foi o líder líbio Muamar Kadafi, ao participar da Reunião de Cúpula América Latina – África, realizada na Venezuela no início deste ano. A defesa da criação de uma OTAS pelo dirigente líbio foi acompanhada de argumentação realista baseada no crescente intervencionismo dos países imperiais pelo mundo afora em busca dos recursos naturais que lhes permitam superar a crise que se agrava, evidentemente se agrava. Ele mesmo teve sua filha de um ano e meio morta em bombardeio ordenado desde Washington por Bill Clinton.

Fortalecimento da aliança do sul
De fato, as duas situações configuram um processo mundial que tende ao tensionamento e recomenda o fortalecimento das alianças dos povos e países que buscam assegurar sua soberania, sua independência e o direito escolher seus próprios destinos. A super emissão de dólar - papel pintado na expressão do cientista brasileiro Bautista Vidal - tem efeitos devastadores para a produção e o trabalho das nações. Na visão do ministro da economia da Argentina, cuja presidenta Cristina anunciou que reagirá à tentativa de destruição de sua moeda e de sua economia, a super emissão de dólares “é como se o trabalho dos argentinos, a sua produção, não valessem nada”.

Buscar caminhos independentes
As duas iniciativas do campo do império, uma monetária outra na esfera da doutrina militar, ambas com desdobramentos que relativizam e enfraquecem a soberania dos países e dos povos, indicam, por outra parte, o acerto de algumas das medidas adotadas pelo governo Lula buscando, de vários modos, um curso de distanciamento do dólar. Já está em prática,por exemplo, o comércio bilateral Brasil-Argentina aposentando o dólar como mediação e referência, o que representa concretamente economia na operação de troca. Da mesma forma, o apoio brasileiro à formação do Banco Sul, que, em razão da persistência da crise econômica nos EUA, necessita de uma vigorosa aceleração em suas operações, também é uma decisão que o panorama internacional permite registrar como acertada. Além disso, a projetada criação de uma nova moeda no âmbito da UNASUR deveria ser fortemente priorizada, assim como estão fazendo os países da ALBA, que fundaram a moeda Sucre e já acumulam um expressivo volume de suas operações de troca nesta nova base monetária, sem qualquer intermediação da declinante e questionada moeda norte-americana.

Não seria prudente imaginar que o campo monetário esteja totalmente distanciado do aspecto militar. São duas operações de alto valor estratégico para os países imperiais, que não distinguem economia da guerra. Talvez reconhecendo a razão dos que qualificam a economia dos EUA diretamente como uma economia de guerra, o colunista do jornal Washington Post, David Brooker sustentou, provavelmente ecoando sinistros murmúrios dos gabinetes do Pentágono, que “uma guerra contra o Irã dinamizaria a economia dos EUA”. Disse que esta seria a solução para os problemas políticos de Barak Obama. E nem se ruborizou.... Entre o conselho deste jornalista e a discussão de uma nova doutrina para a OTAN abarcar também o Atlântico Sul e a super emissão de 600 dólares, há toda uma linha de reorganização para uma nova fase em que o cenário mundial registra o despontar de um conjunto de países emergentes buscando uma articulação em novas bases, rediscutindo os pilares do sistema mundial.

Compartilhar com quem?
Neste cenário, soa bastante realista o discurso do Ministro Jobim que questionou o posicionamento de uma alta autoridade americana que defendeu “soberanias compartilhadas” no Atlântico, ao que o brasileiro contestou em conferência pública: “Qual é a soberania que os EUA querem compartilhar, a deles ou a nossa?”, reagiu.

É interessante como o cenário mundial duro e sombrio vai colocando questões e posicionamentos antes tidos como do âmbito da esquerda na agenda dos governos e mesmo na mesa de segmentos tidos como da cota conservadora do governo Lula. Certamente, Jobim ecoa um pensamento militar brasileiro que vem configurando uma nova doutrina de defesa. Mudanças sempre implementadas em razão do processo histórico, das experiências práticas em que os militares tiveram que analisar estrategicamente da defesa e os interesses nacionais. Foi provavelmente o que teria levado o Brasil, durante a ditadura militar, a constituir uma indústria bélica, a desenvolver a área estatal de telecomunicações e satélites (Telebrás e Embratel), e, até mesmo, a defender a expansão do mar territorial para 200 milhas, medida esta que recebeu apoio da Presidenta Dilma quando estava na prisão Tiradentes, na década de setenta, que também comemorava as vitórias da seleção canarinho na Copa do México. Mais tarde, o curso político internacional também teria levado o Brasil a medidas como quebrar o bloqueio internacional que os países imperiais impuseram contra o Iraque na década de 70 e, também, a reconhecer o novo Governo de Agostinho Neto que, pela força das armas, chegava ao poder em Luanda.

Anos depois, o Brasil, ainda sob o governo Figueiredo, ofereceu apoio logístico e operacional à Argentina quando da Guerra das Malvinas, colocando-se , uma vez mais, em posição de distanciamento e conflito com os países do campo imperial. Nesta oportunidade, vale lembrar, Fidel Castro chegou a oferecer tropas cubanas para lutar ao lado da Argentina, ainda sob o governo do general Galtieri. Há uma evolução no pensamento militar brasileiro, mais recentemente indicado pelo acordo de cooperação firmado entre o Exército Brasileiro e o Exército do Vietnã para técnicas de luta na selva e pelo esforço na constituição de um Conselho de Defesa da América do Sul.

Muitos que rememoram o passado não muito distante do Ministro Jobim antes do governo Lula, certamente se espantam a vê-lo defendendo o direito da Venezuela desenvolver a energia nuclear para fins pacíficos e criticando o bloqueio dos EUA contra Cuba, oportunidade em que também afirmou que “a política internacional não pode ser definida a partir da perspectiva do que convém aos EUA”.

Construção de uma nova agenda progressista
O que surpreende é que estas temáticas nem sempre são tratadas sistematicamente nos fóruns progressistas e da esquerda em geral, muito embora sejam parte integrante da agenda do governo Lula. São posições de governo. Mas, ainda assim, é com alguma dificuldade que movimentos sociais, os sindicatos e a esquerda em geral tratam destas questões, muito embora sua importância histórica seja inequívoca. Creio que era Darcy Ribeiro que dizia “falta nacionalismo na esquerda brasileira”, buscando enquadrar as questões do enfrentamento com o império como algo que deveria ter presença central na agenda das forças progressistas.

Assim como Gandhi , em luta contra o colonialismo inglês, vislumbrou em certo momento a necessidade de defender a nacionalização estratégica do sal, provavelmente seria o caso aqui também dos movimentos sociais - mantendo sua independência - incorporarem em sua agenda, por exemplo, a nacionalização do etanol e da álcool-química, que certamente terá importância ampla em futuro próximo no cenário produtivo mundial, com mencionou recentemente Dilma em entrevista ao lado de Lula.

O PT chegou a aprovar em sua Conferência Nacional a constituição de uma Empresa Pública de Energia Renovável, decisão importante, ainda que, não tenha tido a continuidade esperada, até o momento. Mas, assim como um amplo movimento cívico-militar foi decisivo para a criação da Petrobrás, agora também, com os sinais sombrios que os pólos imperiais nos enviam, seria hora decisiva para constituir uma aliança governo e sociedade, os sindicatos, o clero progressista, o movimento estudantil, os movimentos sociais, para configurar uma consistência ainda mais profunda no programa de ação do governo Lula e em sua continuidade com a Presidenta Dilma. Já há uma recuperação da Telebrás, faltando agora a da Embratel, sem o que não se pode falar em soberania em plenitude neste mundo de idade mídia, pois mesmo as comunicações militares satelitais hoje estão sujeitas a interferências de empresa de propriedade norte-americana. Os militares devem ser incoporados neste amplo debate nacional.

Voto indicou um caminho
A agenda em parte já foi construída pelo voto democrático dos brasileiros posicionando-se pela continuidade das políticas do governo Lula. Mas, a persistência da crise mundial, os sinais imperiais de inadmissíveis desejos intervencionistas na soberana plataforma brasileira, onde está o pré-sal, indicam que a agenda política do governo Dilma possivelmente necessitará de um aprofundamento programático, ampliando os vínculos com a sociedade organizada, já que os olhares de cobiça que se lançam sobre o Brasil não são nada amistosos, nem muito menos complacentes com a aplicação de políticas públicas independentes e soberanas de nossa parte, aliás como já fez o governo Lula por meio de sua política externa.

Desnecessário desenvolver longamente, mas importante relembrar sempre, uma política estratégica para o Brasil, que abarque desde a necessidade de uma renacionalização do setor de fertilizantes - esta sim uma medida de segurança nacional - ou de soberania energética (um problema é que se estima uma desnacionalização de 40 por cento do setor etanol, apesar da Petrobrás ter entrado em campo) , todo este debate fundamental para o destino do povo brasileiro e do Brasil como nação, exige um novo modelo de comunicação. Não há qualquer sombra de dúvida que questões tão cruciais, tão decisivas, estejam sendo tão deformadas e vulgarizadas pelo modelo midiático atual, no qual predominam os interesses vinculados e dependentes dos anunciantes controlados pelo capital externo ou de seus sócios nativos, o que impede o nosso povo compreender plenamente sua relevância.

Não são nada simples o tamanho das tarefas e a magnitude dos desafios que o Brasil enfrentará na Era Dilma. Mas, tal como ela que já suportou, resistiu e venceu as mais duras provas, assim é o povo brasileiro em seu dia a dia, capaz de identificar sob um dilúvio brutal de mentiras e desinformações onde está o caminho do progresso, da transformação e da justiça social.

Ele será capaz de dar o apoio necessário para que o Brasil tenha todos os instrumentos necessários para garantir sua soberania, desde uma defesa à altura de suas potencialidades, uma política monetária que assegure nossa independência e a aplicação das políticas sociais que retirem com urgência milhões e milhões de brasileiros do poço da miséria e da pobreza em que ainda se encontram. Um desafio para gigantes.

Fonte: Agência Carta Maior

sábado, 13 de novembro de 2010

Primeira mulher a entrar na Academia Brasileira de Letras e pioneira de uma estética nordestina, a cearense Rachel de Queiroz, nascida há 100 anos

O século da desbravadora

Primeira mulher a entrar na Academia Brasileira de Letras e pioneira de uma estética nordestina, a cearense Rachel de Queiroz, nascida há 100 anos, tem o inédito Mandacaru (1928) enfim publicado

13 de novembro de 2010 | 0h 00

Antonio Gonçalves Filho - O Estado de S.Paulo

Inédito há 82 anos, o livro de poemas Mandacaru, de Rachel de Queiroz, será finalmente lançado na quarta-feira durante a abertura das comemorações do centenário de nascimento da escritora cearense (17/11/1910-4/11/2003) pelo Instituto Moreira Salles (IMS) do Rio, que programou para a data uma série de eventos. Entre as atividades está a exposição Rachel de Queiroz Centenária, que tem curadoria do consultor literário da instituição, o poeta Eucanaã Ferraz.


Desenho de Suely Avellar/DivulgaçãoEla costumava dizer que era jornalista profissional e ficcionista amadora
A edição fac-símile dos dez poemas de Mandacaru (160 págs., R$ 36) é um marco: o livro deveria ter precedido o lançamento de sua obra mais conhecida, O Quinze (1930), com o qual mantém vínculos que não se restringem à temática do romance - a via-crúcis dos retirantes que tentam escapar da seca e da miséria. Mandacaru é uma espécie de carta de intenções de Rachel, que tentou com a poesia se aproximar dos modernistas paulistas em 1928, dois anos antes de o movimento ser declarado oficialmente morto por um de seus criadores, Mario de Andrade.

Organizadora da edição, Elvia Bezerra, do IMS, garante que só sobrou esse inédito entre os documentos do arquivo Rachel de Queiroz confiados à guarda da instituição, que totalizam 5 mil itens entre manuscritos, livros de anotações, fotos, periódicos, cartas e recortes de jornais. Um pequena parte deles estará na mostra do centro cultural carioca do Instituto, que destaca, entre outras peças, as aquarelas do romance O Galo de Ouro, publicado em forma de folhetim pela revista O Cruzeiro, entre setembro de 1950 e junho de 1951. Fazem parte ainda das comemorações a exibição do filme O Cangaceiro (quarta, às 16h), dirigido por Lima Barreto com diálogos de Rachel de Queiroz, uma conferência de Heloísa Buarque de Hollanda sobre a escritora (na mesma data, às 19h) e a leitura de sua peça A Beata Maria do Egito (dia 23, às 20h), com direção de Aderbal Freire-Filho.

Primeira mulher a entrar na Academia Brasileira de Letras, em 1977, a escritora também será homenageada pela instituição, que abre na quarta-feira a mostra Rachel de Queiroz - Atravessando o Século, em seu Centro Cultural. Lá estarão, entre outros livros, os três infantis publicados pela editora Saraiva: Andira, Cafute & Pena-de- Prata e O Menino Mágico. Duas outras obras infantis estão a caminho pela editora José Olympio, casa onde a escritora começou e terminou sua carreira.

Rachel teve a sorte de contar com uma amiga leal que guardou seus manuscritos, Alba Frota, inspiração para a personagem Maria José de As Três Marias. Chefe do Serviço de Documentação da Universidade Federal do Ceará, Alba, morta num acidente de avião em 1967, recebeu de Rachel os manuscritos de Mandacaru. A primeira notícia sobre o livro saiu no Correio do Ceará, em 1928, revelando que estava definido o lançamento, depois suspenso pela autora, que acabou publicando quatro dos dez poemas em revistas e jornais. Um dos manuscritos se perdeu e foi recuperado, o do poema Lampião, que a revista Cipó de Fogo publicou em seu único número, em 1931. Coube ao pesquisador Fábio Frohwein, do IMS, localizar o original que agora integra a edição de Mandacaru.

No prefácio, a autora se apresenta aos "Novos do Sul" como alguém que acredita no messianismo do movimento modernista paulistano e comunga do seu projeto de brasilidade, mostrando-se também disposta a tirar do Brasil a "velha e surrada casaca europeia" e fazê-lo vestir uma "roupa mais nossa, feita do algodão da terra". O título Mandacaru é justificado por ela como o signo da raça, que, isolado e de aparência inútil e agressiva, resiste à tortura da seca. Também a modernista Tarsila usou o mandacaru em sua tela mais famosa, o Abaporu, pintada no mesmo ano em que foi escrito o livro da cearense.

Como observa a coordenadora da edição, em Mandacaru já estão esboçados todos os temas de O Quinze, do êxodo nordestino à ascensão de Lampião. Talvez a escritora tivesse desistido de publicar Mandacaru em 1928 por estar insatisfeita com o gênero. "Ela devia estar tateando o estilo", diz, identificando na "prosa enxuta" de O Quinze uma desenvoltura que Rachel de Queiroz não demonstrava na poesia. "De qualquer modo, ela fala de emoções e de um cenário que conhecia bem", conclui Elvia.

Nesse cenário feudal, retratado pelos regionalistas nordestinos dos anos 1930, predominava a figura masculina do escritor e personagens de um mundo essencialmente viril de senhores de engenho e cangaceiros. Rachel foi a primeira mulher nordestina a penetrar nesse reduto de cabras-machos, elegendo já em seu primeiro livro de poemas personagens femininos fortes como dona Bárbara Pereira de Alencar (1764-1831), matriarca e heroína histórica que participou da Revolução Pernambucana de 1817 - e, nos anos 1990, guerreiras como Maria Moura. (Consta que, ao ler O Quinze, Graciliano Ramos teria desconfiado do nome impresso na capa, acreditando estar diante de um livro escrito por homem).

Segundo a editora Maria Amélia Mello, da José Olympio, Memorial de Maria Moura (1992) é até hoje um dos mais vendidos entre os 12 livros da escritora publicados pela casa, ao lado de O Quinze, sempre nas compras governamentais destinadas às escolas. Rachel esteve ligada à editora desde os anos 1930, tendo traduzido livros de Dostoievski e Balzac. "Ela passou 50 anos sem nenhum contrato assinado, fazendo da José Olympio seu endereço de correspondência quando morava na ilha do Governador", conta Maria Amélia, que acaba de lançar Não Me Deixes, livro com receitas e fotos da fazenda de mesmo nome pertencente à escritora.

Maria Amélia, que também lançou uma nova edição de Tantos Anos, fora de catálogo há muito, prepara um novo livro da autora, O ABC de Rachel de Queiroz - espécie de perfil literário - e seleciona as crônicas da escritora para um próximo volume. Foi esse o gênero que a consagrou e com o qual se despediu dos leitores, no Caderno 2, do Estado, onde assinou um texto por semana entre 1988 e 2003. "Ela era irreverente, engraçada, uma profissional que se dizia preguiçosa, mas que produziu como ninguém", comenta a editora. De fato. Só de crônicas, Rachel de Queiroz deixou 3 mil para comprovar. Tinha um profundo fascínio por escrever em jornal.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Bolsa-Família: Efeitos Colaterais

Bolsa-Família: Efeitos Colaterais

Por: Daniel Jorge Caetano em seu blog

28/09/2010

Não gosto muito de tratar assuntos políticos aqui; a razão para isso é que gosto de estimular a reflexão sobre o que observo no dia-a-dia e, acredito, falar sobre política sai um pouco desta linha, dado que nela o mote principal não é a razão e reflexão, mas a negociação de interesses.

Vou abrir uma exceção desta vez, devido a uma conversa que ouvi ontem.
Conversavam sobre a ineficiência, ineficácia do “bolsa-esmola” e toda a falácia que supostamente cerca o referido programa (positivas e negativas). O que me permite abrir essa exceção é o fato de que todos os candidatos parecem estar apoiando esta iniciativa – ainda que, em alguns casos, esse apoio seja motivo de riso para muitos.

Sou uma pessoa técnica, não gosto de fazer política. Minha experiência no campo político me proporcionou muita angustia pessoal; foi quando descobri que não tenho fígado para isso1. Assim, há algum tempo, seguindo a minha visão técnica e sem conhecer muita coisa da realidade brasileira, eu questionava muito o tal do Bolsa Família; em especial, quanto à sua eficácia.



Avaliando superficialmente, o Bolsa Família é “um programa assistencialista e populista, uma forma legal de compra de votos”, como ouvi alguém colocar.

Não há como negar que é possível – e alguns diriam provável – que essa é a índole do programa, isto é, que essa é a motivação primordial por trás do programa. Por outro lado, vem a dúvida: será que esta é a característica mais relevante em uma análise mais ampla?

Depois de viajar pelo interior do Brasil, por lugares como o Vale do Jequitinhonha no norte de Minas Gerais ou o interior da Bahia, regiões extremamente mais pobres que a em que vivo – São Paulo -, conversar com os habitantes destes lugares e ouvir da boca deles como a vida da comunidade melhorou (e não apenas das famílias diretamente beneficiadas pelo programa), me convenci que a avaliação ”rasa” do programa era falha, e comecei a procurar entender melhor suas consequências.

A conclusão a que cheguei é que ele tem efeitos muito mais relevantes do que aqueles normalmente explicitados. Aqueles que consideram que se trata apenas de um programa eleitoreiro, podem considerar que esses “efeitos”, na verdade, são apenas “efeitos colaterais”. Mas isso não invalida, de forma alguma, as conclusões sobre a validade do programa.

Antes de mais nada, gostaria de dizer que, me parece, o segredo por trás do sucesso do programa é o valor que foi definido para a bolsa, além dos critérios para sua concessão. Os critérios são relevantes, mas dependem de controle – algo difícil de se conseguir, dada a amplitude de programa. O valor da bolsa, entretanto, tem um efeito auto-regulador interessante, que dispensa controle ativo.

Que efeito auto-regulador é esse? É o efeito de ser uma bolsa de um valor alto o suficiente para permitir que as famílias saiam da miséria absoluta, mas baixo o suficiente para que, assim que a situação melhora, seja para a pessoa ou para a comunidade em que ela vive, a bolsa se torna desprezível.

Para entender essa afirmação, é preciso avaliar os efeitos todos do programa, o que tentarei apresentar em diversos níveis, sempre com foco nos benefícios sociais que ele proporciona (e não nos ganhos políticos decorrentes).

Efeitos de Primeira Ordem
Os efeitos de primeira ordem são aqueles diretos, ou seja, uma melhoria da qualidade de vida dos mais miseráveis. Em tese, os beneficiários diretos são apenas as famílias que recebem a bolsa e é este tipo de efeito que leva a uma definição, talvez precipitada, de que se trata de um programa ”populista e eleitoreiro”.2

Efeitos de Segunda Ordem
Os efeitos de segunda ordem são aqueles observados na sociedade, em um curto intervalo de tempo, após a implementação do programa.

Na economia
As pessoas que recebem o bolsa família tem, proporcionalmente, um grande aumento em seu poder de compra; essas pessoas, entretanto, não estão em um patamar de consumo em que aumentar o poder de compra significa comprar supérfluos (celulares, carros etc.), mas sim em um patamar onde existe necessidade reprimida por alimentos e insumos básicos para a vida digna (água, limpeza, material escolar, dentre outros).



Como a maioria destas pessoas vivem em lugares muito pobres3, estes produtos, em geral, não são adquiridos em grandes supermercados, mas em pequenas vendas e pequenos comércios locais.

Ora, a “vendinha” da esquina, ao ganhar novos consumidores e ter um aumento substancial do consumo, pode crescer. Se cresce, não apenas pode vir a gerar empregos, mas também movimenta a economia local: o dono da vendinha e seus funcionários também vão comprar em outras lojas.

Adicionalmente, o dono da vendinha tem como negócio o comércio, ou seja, ele não produz o que vende. Se aumentou a venda, ele tem que comprar mais.
Isso movimenta a agricultura e produção local e, em estágios mais avançados, até mesmo aumenta o consumo em outros mercados, de onde o dono da vedinha tem que ir buscar produtos, “na cidade grande”. Em outras palavras, trata-se do surgimento de novos mercados produtores e consumidores, possibilitando inclusive a indução de emprego e melhoria das condições de vida em outras regiões.

Além do efeito óbvio que isso tem para o aumento da qualidade de vida local, a maior parte dessas operações geram impostos para o governo e, embora seja difícil precisar o valor que “volta” para o governo de cada Real gasto com o Bolsa Família, o certo é que uma parte volta. Como são mercados novos, isso significa que o imposto que volta tem o efeito de diminuir o custo do programa, o que para o governo – e para o povo que o financia – é ótimo.

Agora, uma outra coisa que acontece com o aquecimento da economia local é, em geral, uma inflação local. É comum que nas regiões mais pobres tudo custe muito barato, porque as pessoas não têm dinheiro para consumir. Com o dinheiro e a melhoria inicial das condições de vida das pessoas, ocorre um aumento do consumo e, com isso, é normal que exista uma pequena inflação local. Bizarramente, isso é positivo, proporcionando um dos instrumentos de auto-regulação do benefício.

Quando alguém diz que “o cara vai receber a bolsa e não vai mais querer trabalhar”, está ignorando que a economia é dinâmica: com a inflação local e o aumento do seu padrão de consumo, o poder de compra da bolsa para uma dada família vai cair com o tempo. Como o indivíduo pode trabalhar e receber a bolsa, com o tempo se torna mais interessante manter o emprego - que com o aquecimento da economia local tende a pagar melhor – do que a manutenção da bolsa – que tem valor fixo nacionalmente, não levando em conta as questões locais.

Isso pode acabar se tornando um caminho natural para a “porta de saída” da bolsa, depois de ter estimulado o desenvolvimento local.4

Na política
Uma consquência curiosa – e que só me atentei para ela conversando com pessoas de local onde o coronelismo era muito forte – é que o Bolsa Família tirou poder das oligarquias locais, vulgarmente conhecidas como ”famílias de coronéis”.

Historicamente estas famílias dominavam a política local através da compra do voto com coisas pequenas e baratas: pares de chinelos, sacos de farinha, coisas que não lhes custavam nada, mas que lhes permitiam governar uma cidade ou estado, receber verbas federais e desviar recursos à vontade, pois o povo – mantido ignorante e necessitado – via neles salvadores que lhes permitiam beber água da chuva – captada em um açude construído em propriedade particular de político, usando verba pública – a um pequeno custo… ou até mesmo de graça… “como é bom nosso governante!”

Obviamente este problema não acabou com o Bolsa Família, mas aparentemente vem se reduzindo. A razão para isso é que, com aquela pequena ajuda, nestes locais muito pobres onde se comprava um voto com um par de chinelos, as pessoas não têm mais interesse em vender seus votos por essas coisas – agora elas conseguem comprar o saco de farinha, sem precisar implorar ou trocar favores – ou seja, sobrevivem de maneira mais digna.

Assim, comprar o voto tornou-se uma prática naturalmente mais cara – ou seja, o Bolsa Família inflacionou a compra de votos, dificultando ou até mesmo impossibilitando a prática. Com isso, abre-se espaço para uma possível diversificação no espectro político em várias localidades. Surgem novas lideranças locais, municipais, mudando a dinâmica política da região.

Ainda que isso pareça um pouco distante, de médio prazo ao menos, novas lideranças locais têm assumido no lugar de velhas famílias oligárquicas em muitos lugares, o que pode ter como um de seus fatores de influência justamente o Bolsa Família (embora dificilmente seja o único, é claro!)

Alguns podem alegar que deixou-se de vender votos localmente para se vender nacionalmente, uma vez que com o benefício o governo federal estaria comprando votos também. Mas é questionável a validade de se falar em um “coronelismo federal”, dada o baixo contato entre povo e governo federal.5

Na educação
Como o foco do Bolsa Família é na alimentação (faz parte do Programa Fome Zero) e a concessão da Bolsa exige a presença das crianças na escola6, ele contribui para uma melhoria na educação, embora não a garanta.

A combinação da presença e alimentação é importante porque ninguém aprende nada sem ir para a escola e, mesmo indo, não aprende se estiver com fome.
Os efeitos da desnutrição na capacidade de aprendizado são vastos.

Infelizmente isso não é garantia, porque a educação básica em nosso país ainda é extremamente deficiente e, até o momento, por ser competência estadual e municipal, não há nada que o Governo Federal possa fazer a respeito.7



Na saúde
Outra exigência para a concessão da Bolsa são os cuidados com a saúde da criança, regulamentado como exigência de vacinação, por exemplo. Bem alimentada e com orientações mínimas, as pessoas se mantém mais saudáveis e dependem menos do deficiente sistema público de saúde. Isso leva também a uma vida mais digna e traz mais motivação às pessoas.



Efeitos de Terceira Ordem
Os efeitos de terceira ordem são aqueles que decorrem da combinação dos efeitos de segunda ordem, além da universalização destes efeitos com o passar do tempo. Analisarei alguns deles.

Na sociedade
Com todos os efeitos de segunda ordem citados, em especial a geração de condições de vida mais dignas nos mercados locais – dado o seu desenvolvimento -, ocorre a formação de uma consciência de cultura local e, também, a fixação das pessoas onde elas estão, gerando novos pólos de desenvolvimento, produção e consumo.

Essa fixação é fundamental, uma vez que os grandes centros atuais não comportam mais crescimento populacional, já vivendo em uma condição de esgotamento de recursos (congestionamentos, falta de água, alto custo da alimentação, poluição, etc).

Fixando as pessoas em seu local de origem proporciona uma sociedade melhor distribuída, tornando a ocupação e o desenvolvimento nacional menos desigual, possibilitando acesso melhor distribuído aos recursos naturais de todas as regiões do país.

Na política
Com o passar do tempo, as novas lideranças locais podem ser tornar novas lideranças regionais ou até mesmo nacionais. Essa renovação nas lideranças políticas é saudável para a democracia, proporcionando seu amadurecimento.8

Na educação
Um efeito já apontado em algumas análises é que, à medida que as condições de vida das pessoas melhoram, com um crescimento do rendimento per-capita, quando a renda do Bolsa Família passa a não se mais tão importante na alimentação – mas ainda antes de se tornar dispensável -, ela passa a ser utilizada na aquisição de livros e material escolar.

Este efeito, já constatado em alguns locais9, proporciona, juntamente com outros fatores de segunda ordem, um grande ganho na capacidade de aprendizado dos estudantes, contribuindo para a formação de gerações mais formalmente educadas.

Na saúde
Com alimentação, estudo e cuidados médicos básicos, temos um povo mais saudável; e um povo mais saudável é mais feliz, produz melhor e consome mais. Isso tudo já é ótimo para a nação.

Mais que isso, entretanto, os efeitos de longo prazo de políticas da mudança da cultura da população mais pobre – proporcionadas pelas exigências de concessão de bolsas do Bolsa Família -, podem formar gerações não apenas mais saudáveis, mas mais conscientes de sua própria saúde. E pessoas mais conscientes de sua saúde, em geral, cuidam dela, em um nível muito mais alto, como melhor alimentação, atividades físicas etc.

Efeitos de Quarta Ordem
Os efeitos de quarta ordem são os benefícios intrínsecos da universalização dos efeitos de terceira ordem. Os que imagino mais imediatos são três.

O primeiro é a influência de todos estes fatores nos gastos públicos com saúde. Esta área pode se beneficiar extremamente de uma população mais saudável e bem educada, tanto no aspecto financeiro – menos gastos com saúde pública – quando econômico – com um menor número de pessoas solicitando o sistema público de saúde, aqueles que o solicitam podem ser melhor atendidos, com um investimento público potencialmente menor.

O segundo é que, com uma melhor educação, obviamente combinadas com outras políticas que venham melhorar a cultura dos alunos, teremos uma população mais culta, capaz de escolher melhor seus representantes políticos, buscando um equilíbrio entre renovação e experiência, rumando cada vez mais em direção a uma democracia madura.

O terceiro é a influência de tudo isso nos gastos públicos com o próprio programa. Uma vez que a nossa população já ruma para uma estabilidade numérica e, com essa população cada vez mais educada, saudável e consciente, o número de famílias que precisam do Bolsa Família tende a ser cada vez menor.10

Pontos negativos
Nem tudo são flores, no entanto. Como estes efeitos só podem ser observados com a presença do programa em todo o país, os números de beneficiários são extremamente altos e, assim, o controle dos parâmetros de concessão ficam prejudicados. É praticamente impossível fazer um controle rígido sem que os custos do programa crescam demasiadamente.

Ainda que evidentemente ocorram desvios – devido ao controle precário -, é bastante possível que estes desvios representem um valor financeiro bastante inferior ao custo que teria um controle mais apurado. Esta afirmação não vem meramente de uma eventual fiscalização ter um custo alto, mas também do fato que os valores movimentados individualmente são muito baixos. Para que quantias grandes sejam de fato desviadas, grandes esquemas precisam ser armados.

Contra “grandes esquemas”, mesmo um controle menos sofisticado pode ser capaz de detectá-lo e, convém lembrar, principalmente na hipótese de ”programa eleitoreiro para compra de votos” – como dizem alguns -, o governo seria o menor interessado em que exista desvio desta verba específica.

Adicionalmente, tanto o cadastro quanto o controle atuais são feitos pelos estados e municípios, que em grande parte não estão nas mãos dos mesmos partidos que o governo federal, o que dificulta ainda mais a formação de grandes esquemas sem que ninguém tenha conhecimento.

Moral da história: se ocorre desvio, é com o consentimento de todos; isso não torna a preocupação com os desvios menos importante, mas não serve de munição eleitoral contra o programa em si.

Conclusões
Diante do apresentado, afirmar simplesmente que se trata de um programa de esmolas é limitar demais o escopo de um programa que, sendo implantado de maneira generalizada como foi, pode trazer enormes transformações para um país – e, dentro de certos limites, já me parece estar trazendo, ainda que eles sejam pouco visíveis aqui em São Paulo.11

O conjunto de efeitos que o programa traz consigo, cada um deles potencializando fatores fundamentais para o desenvolvimento do país em todos os níveis humanos, aliado ao seu custo relativamente baixo aos cofres públicos, tornam o Bolsa Família não apenas um programa de sucesso momentâneo, mas também uma proposta de estratégia de médio e longo prazo que tem, no meu entender, boas chances de, em conjunto com outras políticas, modificar positivamente a sociedade brasileira.

No fim, fica até difícil dizer qual é o efeito colateral. Seria um programa “populista e eleitoreiro” que, por acaso, melhora a condição de vida da sociedade como um todo, ou será que é um programa que, por melhorar a condição de vida da sociedade, torna-se popular e com dividendos eleitorais óbvios?



Quando ainda não observaram como isso é bom para a vida de todos, alguns dizem que nós não temos que pagar (através dos impostos) um programa como esse, observando apenas os aspectos dos dividendos eleitorais.

Entretanto, esta visão é simplesmente um reflexo da educação míope que nos foi imposta. Fomos educados de maneira bizarra, do ponto de vista social, ensinados que o importante é acumular e, portanto, dividir é mau.

A questão é que muitas vezes é preciso dividir para somar12, ainda que a nossa criação – que define nossos preconceitos e medos – possa tornar dificultosa esta percepção. Nos limitamos a analisar os efeitos diretos, de curto prazo, de primeira ordem.

Porém, é preciso ir além. Desprezar efeitos de ordens superiores pode ser desastroso quando o propósito é planejar o futuro de uma nação.

(1) Um dia eu falo mais sobre isso e, claro, explico a minha visão política. Resumidamente é isso: assuntos técnicos são importantes demais para deixar na mão de políticos e assuntos políticos são importantes demais para serem deixados nas mãos de técnicos. Cada macaco no seu galho.

(2) Em todo caso, no meu entender, é desumano dizer simplesmente que “não temos que pagar por isso”. Quem decidiu isso foi um governo democraticamente eleito pela maioria. Dizer que “não temos” que pagar (através dos impostos) os custos de uma política social do governo, é uma desrespeito ao poder democraticamente concedido. Democracia é o poder da maioria das pessoas (demos, povo), não de quem tem a maioria do dinheiro.

(3) Nos grandes centros, o valor da bolsa não tem grandes efeitos, dado o alto custo de vida.

(4) É claro que vão existir aqueles que são, sim, vagabundos e vão ficar apenas com a bolsa… mas cedo aprendi que não adianta ajudar quem não quer ser ajudado; isso não significa, porém, que não devemos de ajudar àqueles que precisam e querem ajuda, com a justificativa de existem pessoas que não querem a ajuda.

(5) Ainda que aparente uma roupagem de falta de ética, não se faz política de outra forma que não negociando benefícios a determinados grupos. E negociar com base em benefícios ao povo é tão legítimo como negociar com base em benefícios para grandes grupos estrangeiros. A escolha do grupo que o governo pretende beneficiar depende meramente do retorno que ele espera obter.

(6) Cconforme artigo 3o. da Lei No. 10.836 de 9 de Janeiro de 2004.

(7) Além de propiciar vagas em excesso nas universidades, possibilitando baixo custo do ensino superior mesmo para pessoas com deficiências de formação básica. Infelizmente isso é uma medida de curto prazo para minimizar o problema, uma vez que não há como resolver de maneira ideal a situação de centenas de milhares de brasileiros que já perderam anos e anos de sua vida em uma educação básica absolutamente inadequada e ineficiente.

(8) “Alternância de poder” não é um termo de que eu goste, por que em geral leva a uma noção errada de troca entre esquerda e direita; não acho que uma nação precise passar um tempo andando para um lado e depois passar igual período de tempo andando para outro, pouco saindo do lugar, isto é, pouco indo adiante. Mais importante do que alternância de poder entre orientações políticas diferentes é a evolução da cultura política e dos políticos. Neste sentido, a chave para a evolução da democracia são novas lideranças, mais ligadas às necessidades do futuro que aos vícios do passado, sem desprezo do valor da experiência dos políticos mais velhos.

(9) O Google é seu amigo.

(10) Como alguém já comentou, é desnecessário aumentar em demasia o programa Bolsa Família (dobrá-lo, por exemplo), porque seria um contra-senso diante de todo o exposto aqui; para que fosse razoável dobrá-lo, seria necessário que se aumentasse a pobreza e a miséria do país, que é justamente o que se pretende com o programa. Se isso acontecesse, isto é, se a pobreza e miséria aumentasse mesmo com o programa já existente, isso significaria que o programa não funciona e, portanto, também não precisaria ser aumentado. Ainda que no curto prazo talvez possam ser necessários ajustes, com um leve aumento no número de bolsas concedidas, a tendência do programa Bolsa Família deve ser apenas a de queda neste número, ao menos quando se considera um horizonte de 5 a 10 anos.

(11) Aliás, diante da exposição deste texto, a “invisibilidade” das melhorias do Bolsa Família aqui em São Paulo já devem ser óbvias, dado o alto custo de vida. Isso para não falar que o governo do estado de São Paulo e, em especial, a Prefeitura do Município de São Paulo não foram capazes de – ou não se interessaram em – organizar a estrutura necessária para a criação do cadastro de requerentes e o órgão de controle do Bolsa Família por aqui.

(12) Algo tão óbvio quanto dizer que é preciso investir para poder ter lucro.

Uma explicação muito sensata do que é o Bolsa Família

Fonte: Blog da Maria Frô

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Escola do MST tem a melhor nota do ENEM em Santa Catarina

Escola do MST tem a melhor nota do ENEM em Santa Catarina

OUSAR LUTAR! OUSAR VENCER!

Escola do MST tem a melhor nota do ENEM em Santa Catarina

Na Escola Semente da Conquista, localizada no assentamento 25 de Maio, em Santa Catarina, estudam 112 filhos de assentados, de 14 a 21 anos. A escola é dirigida por militantes do MST e professores indicados pelos próprios assentados do município de Abelardo Luz, cidade com o maior número de famílias assentadas no estado. São 1418 famílias, morando em 23 assentamentos.


A escola foi destaque no Exame Nacional do Ensino médio (Enem) de 2009, divulgado na pagina oficial do Enem. Ocupou a primeira posição no município, com uma nota de 505,69. Para muitos, esses dados não são mais do que um conjunto de números que indicam certo resultado, mas para nós, que vivemos neste espaço social, é uma grande conquista.

No entanto, essa conquista, histórica para uma instituição de ensino do campo, ficou fora da atenção da mídia, como também pouco reconhecida pelas autoridades políticas de nosso estado. A engrenagem ideológica sustentada pela mídia e pelas elites rejeita todas as formas de protagonismo popular, especialmente quando esses sujeitos demonstram, na prática, que é possível outro modelo de educação.

A Escola Semente da Conquista é sinal de luta contra o sistema que nada faz contra os índices de analfabetismo e do êxodo rural. Vale destacar que vivemos numa sociedade em que as melhores bibliotecas, cinemas, teatros são Mais de 100 filhos de assentados estudam na Escola para uma pequena elite. Espaços culturais são direitos universais, mas que são realidade para poucos.

E mesmo com todas as dificuldades a Escola Semente da Conquista foi destaque entre as escolas do Município. Este fato não é apenas mérito dos educandos, mas sim de uma proposta pedagógica do MST, que tem na sua essência a formação de novos homens e mulheres, sujeitos do seu processo histórico em construção e em constante aprendizado.

fonte : Diario da Classe Intersindical

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Brasil apoiará no G20 reforma do FMI e planos de ação para regiões pobres

Brasil apoiará no G20 reforma do FMI e planos de ação para regiões pobres

Rede Brasil Atual

8 de novembro de 2010 às 17:33h

por Renata Giraldi

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a presidente eleita, Dilma Rousseff, reforçarão, em Seul, na Coreia do Sul, a decisão de ampliar o espaço dos países em desenvolvimento no Fundo Monetário Internacional (FMI), assim como os planos de ação de desenvolvimento para as regiões mais pobres do mundo. As discussões em torno desses temas são as menos polêmicas durante a Cúpula do G20 (que reúne as 20 maiores economias do mundo).

Ao participar da última reunião do G20 como presidente, Lula deverá destacar a posição do Brasil de país receptor de doações para doador, ampliando a chamada cooperação prestada. O presidente pretende destacar as ações definidas pela política externa brasileira que envolvem a assistência humanitária e também o perdão da dívida externa em relação a vários países. As medidas mais expressivas envolveram o Haiti e países africanos, como Angola e Moçambique.

A defesa da reforma do FMI foi constante nos discursos de Lula e uma das prioridades do governo brasileiro. No Canadá, na primeira reunião prévia do G20, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que o governo insistiria na adoção de mudanças no conselho do FMI.

No mês passado, os representantes do G20 aprovaram um acordo que propõe a reforma do FMI redistribuindo as cotas do organismo que se referem ao poder de voto. Com isso, o Brasil saltará da 15ª posição para a 10ª. Houve ainda consenso para que os países industrializados cedam duas das oito vagas do conselho do fundo para as nações em desenvolvimento.

O Conselho Consultivo do FMI é formado por 24 assentos, dos quais os Estados Unidos, a Alemanha e o Japão ocupam de forma individual cada assento. Os outros 21 lugares são ocupados de forma agrupada pelos demais membros do fundo. A tendência, segundo especialistas, é que dois países europeus percam lugar em favor de uma nação africana e outra asiática.

O processo de decisão para definir quem vai ceder lugar para os países em desenvolvimento deve levar um ano, sendo encerrado apenas no fim de 2011. Os maiores acionistas atualmente são Estados Unidos, o Japão, Reino Unido, a Alemanha, França, Itália, o Brasil, a Rússia, Índia e China.

Com a nova reorganização da distribuição dos votos e a participação de 187 países-membros do fundo, o organismo sofrerá a mais profunda das reformas desde que foi criado, depois da 2ª Guerra Mundial.

Integram o G20 os seguintes países: Alemanha, Arábia Saudita, Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, China, Coreia do Sul, Estados Unidos, França, Índia, Indonésia, Itália, Japão, México, Reino Unido, Rússia, África do Sul, Turquia e a União Europeia

Paralelamente, os líderes mundiais, reunidos em Seul, debaterão planos de ação destinados aos países em desenvolvimento. Na prévia da cúpula, no Canadá, o alvo foi o Haiti. O presidente do Haiti, René Préval, agradeceu o apoio recebido da comunidade internacional após o terremoto de 12 de janeiro, mas pediu a ampliação dos recursos externos.

Fonte: Agência Brasil e
Carta Capital

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

As eleições e o preconceito contra o Nordeste

As eleições e o preconceito contra o Nordeste

Redação Carta Capital

3 de novembro de 2010 às 11:43h

Post no Twitter gera onda de respostas. Releia o que a professora Tânia Bacelar escreveu depois do 1º turno

A polêmica aberta pela da estudante de Direito Mayara Petruso, que postou no Twitter mensagens ofensivas aos nordestinos, ganhou um novo capítulo.

A Ordem dos Advogados do Brasil de Pernambuco deverá entrar nesta quarta-feira 3 na Justiça paulista contra a universitária que responderá por crime de racismo e incitação pública ao crime. As duas frases postadas no Twitter que desencadearam uma série de injúrias aos nordestinos e respostas de milhares de usuários da rede, foram:

“Afunda Brasil. Dêem direito de voto pros nordestinos e afundem o país de quem trabalhava pra sustentar os vagabundos que fazem filho para ganhar a bolsa 171”

“Nordestino não é gente, faça um favor a SP, mate um nordestino afogado”

Mayara tentou se desculpar ao postar em um site de relacionamento:

“Minhas sinceras desculpas ao post colocado no ar, o que era algo pra atingir outro foco, acabou saindo fora de controle. Não tenho problemas com essas pessoas, pelo contrário, errar é humano, desculpa mais uma vez.”

Logo após os resultados do 1ºturno a economista e professora do Departamento de Economia da Universidade Federal de Pernambuco, Tânia Bacelar Araújo discorreu sobre o preconceito de parte da elite em relação ao voto nordestino. É mais que oportuno republicar o texto, que foi publicado aqui em 19 de outubro.

O voto do Nordeste

Por Tânia Bacelar Araújo*

A ampla vantagem da candidata Dilma Rousseff no primeiro turno no Nordeste reacende o preconceito de parte de nossas elites e da grande mídia face às camadas mais pobres da sociedade brasileira e em especial face ao voto dos nordestinos. Como se a população mais pobre não fosse capaz de compreender a vida política e nela atuar em favor de seus interesses e em defesa de seus direitos. Não “soubesse” votar.

Desta vez, a correlação com os programas de proteção social, em especial o “Bolsa Família” serviu de lastro para essas análises parciais e eivadas de preconceito. E como a maior parte da população pobre do país está no Nordeste, no Norte e nas periferias das grandes cidades (vale lembrar que o Sudeste abriga 25% das famílias atendidas pelo “Bolsa Família”), os “grotões”- como nos tratam tais analistas – teriam avermelhado. Mas os beneficiários destes Programas no Nordeste não são suficientemente numerosos para responder pelos percentuais elevados obtidos por Dilma no primeiro turno : mais de 2/3 dos votos no MA, PI e CE, mais de 50% nos demais estados, e cerca de 60% no total ( contra 20% dados a Serra).

A visão simplista e preconceituosa não consegue dar conta do que se passou nesta região nos anos recentes e que explica a tendência do voto para Governadores, parlamentares e candidatos a Presidente no Nordeste.

A marca importante do Governo Lula foi a retomada gradual de políticas nacionais, valendo destacar que elas foram um dos principais focos do desmonte do Estado nos anos 90. Muitas tiveram como norte o combate às desigualdades sociais e regionais do Brasil. E isso é bom para o Nordeste.

Por outro lado, ao invés da opção estratégica pela “inserção competitiva” do Brasil na globalização – que concentra investimentos nas regiões já mais estruturadas e dinâmicas e que marcou os dois governos do PSDB -, os Governos de Lula optaram pela integração nacional ao fundar a estratégia de crescimento na produção e consumo de massa, o que favoreceu enormemente o Nordeste. Na inserção competitiva, o Nordeste era visto apenas por alguns “clusters” (turismo, fruticultura irrigada, agronegócio graneleiro…) enquanto nos anos recentes a maioria dos seus segmentos produtivos se dinamizaram, fazendo a região ser revisitada pelos empreendedores nacionais e internacionais.

Por seu turno, a estratégia de atacar pelo lado da demanda, com políticas sociais, política de reajuste real elevado do salário mínimo e a de ampliação significativa do crédito, teve impacto muito positivo no Nordeste. A região liderou – junto com o Norte – as vendas no comercio varejista do país entre 2003 e 2009. E o dinamismo do consumo atraiu investimentos para a região. Redes de supermercados, grandes magazines, indústrias alimentares e de bebidas, entre outros, expandiram sua presença no Nordeste ao mesmo tempo em que as pequenas e medias empresas locais ampliavam sua produção.

Além disso, mudanças nas políticas da Petrobras influíram muito na dinâmica econômica regional como a decisão de investir em novas refinarias (uma em construção e mais duas previstas) e em patrocinar – via suas compras – a retomada da indústria naval brasileira, o que levou o Nordeste a captar vários estaleiros.

Igualmente importante foi a política de ampliação dos investimentos em infra-estrutura – foco principal do PAC – que beneficiou o Nordeste com recursos que somados tem peso no total dos investimentos previstos superior a participação do Nordeste na economia nacional. No seu rastro,a construção civil “bombou” na região.

A política de ampliação das Universidades Federais e de expansão da rede de ensino profissional também atingiu favoravelmente o Nordeste, em especial cidades médias de seu interior. Merece destaque ainda a ampliação dos investimentos em C&T que trouxe para Universidades do Nordeste a liderança de Institutos Nacionais – antes fortemente concentrados no Sudeste – dentre os quais se destaca o Instituto de Fármacos ( na UFPE) e o Instituto de Neurociências instalado na região metropolitana de Natal sob a liderança do cientista brasileiro Miguel Nicolelis que organizará uma verdadeira “cidade da ciência” num dos municípios mais pobres do RN ( Macaíba).

Igualmente importante foi quebrar o mito de que a agricultura familiar era inviável. O PRONAF mais que sextuplicou seus investimentos entre 2002 e 2010 e outros programas e instrumentos de política foram criados ( seguro – safra , Programa de Compra de Alimentos, estimulo a compras locais pela Merenda Escolar, entre outros) e o recente Censo Agropecuário mostrou que a agropecuária de base familiar gera 3 em cada 4 empregos rurais do país e responde por quase 40% do valor da produção agrícola nacional. E o Nordeste se beneficiou muito desta política, pois abriga 43% da população economicamente ativa do setor agrícola brasileiro.

Resultado: o Nordeste liderou o crescimento do emprego formal no país com 5,9% de crescimento ao ano entre 2003 e 2009, taxa superior a de 5,4% registrada para o Brasil como um todo, e aos 5,2% do Sudeste, segundo dados da RAIS.

Daí a ampla aprovação do Governo Lula em todos os Estados e nas diversas camadas da sociedade nordestina se refletir na acolhida a Dilma. Não é o voto da submissão – como antes – da desinformação, ou da ignorância. É o voto da auto- confiança recuperada, do reconhecimento do correto direcionamento de políticas estratégicas e da esperança na consolidação de avanços alcançados – alguns ainda insipientes e outros insuficientes. É o voto na aposta de que o Nordeste não é só miséria (e, portanto, “Bolsa Família”), mas uma região plena de potencialidades. 

*Matéria originalmente publicada no Viomundo

Fonte: Carta Capital

O governo Dilma e a Comunicação Social

O governo Dilma e a Comunicação Social

Por Marcelo Salles, 03.11.2010


“A Comunicação é uma missão social. Por isto, juro respeitar o público, combatendo todas as formas de preconceito e discriminação, valorizando os seres humanos em sua singularidade e na luta por sua dignidade” (Juramento do Jornalista Profissional)
Segundo a jornalista Marilia Gabriela, a vitória de Dilma foi apertada. 12 milhões foi pouco pra ela. Uma Bolívia inteira de votos não bastou, como não foi suficiente para convencer a maior parte dos intelectuais da direita e de seus arautos. “A oposição vai governar 54% do eleitorado” é a frase mais comum a flutuar pelo vasto oligopólio da mídia.

De fato a direita ganhou importantes governos estaduais. Ocorre que, para a infelicidade dela, o campo progressista também venceu importantes governos estaduais. E mais: 60% da Câmara dos Deputados e 70% do Senado Federal. Talvez o Congresso Nacional mais à esquerda que o Brasil já viu. Mas como parte da direita não enxerga o Brasil…

A primeira entrevista de Dilma, depois de eleita, foi para a TV Record. Nem o Lula, que é o Lula, ousou desafiar a supremacia da TV Globo. Se a iniciativa vai se traduzir em ações concretas de combate às irregularidades das empresas de mídia, que violam descaradamente a Constituição Federal, isso só o tempo vai dizer. É preciso ficar atento para os novos ministros das Comunicações, Educação, Cultura e Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República. Seja como for, não dar a primeira entrevista à Globo tem um valor simbólico gigantesco.

Por um motivo muito simples: a TV Globo, inaugurada em parceria com o grupo estadunidense Time-Life um ano depois da ditadura, foi o principal sustentáculo do regime autoritário que seqüestrou, torturou e assassinou milhares de brasileiros.
Vamos à opinião de quem trabalhou por 10 anos na Fundação Roberto Marinho, inclusive ocupando o posto mais alto da organização, a de controller. Roméro Machado:

- O escândalo Globo/Time Life não é meramente um caso de um sócio brasileiro (Roberto Marinho) que aceita como sócio uma empresa estrangeira (Grupo Time-Life), contra todas as leis do país. O escândalo Globo/Time-Life é mais do que isso. É antes de mais nada um suporte de mídia que visava apoiar, dar base, sustentação e consolidar a ditadura no Brasil, apoiada e supervisionada pela CIA, por exigência dos Estados Unidos, comandado por terroristas da CIA, como Vernon Walters e Joe Walach, sendo este último com emprego fixo na Globo, como “representante” do grupo Time-Life.

Dilma lutou contra essa ditadura, e ela sabia muito bem que a tortura foi utilizada como instrumento de controle social, assim como a Globo, para permitir a desnacionalização das economias latino-americanas. A jornalista Naomi Klein, no livro “A doutrina do choque”, mostrou de modo lapidar a relação dos regimes autoritários com a implementação do capitalismo neoliberal em Nuestra América. Foi no Chile o laboratório. Foi no Chile de Pinochet que os Chicago Boys, sob a orientação do economista Milton Friedman, fizeram a festa. O receituário é conhecido: privatizações, redução do Estado e abertura econômica indiscriminada. Rigorosamente o contrário do caminho adotado pelo Brasil e pelos países latino-americanos que conquistam avanços importantes.

Por isso é muito significativa a escolha da presidenta eleita.
Não é o fato de a TV Record ter sido a escolhida, apesar de lá existirem profissionais competentes e que não estão impedidos de fazer jornalismo por forças superiores. O fato é que a Globo foi preterida. E com isso, toda uma lógica foi declinada.

Do ponto de vista da comunicação, podemos antever basicamente dois caminhos para o governo Dilma – caminhos esses que vão influir, em grande medida, no desenvolvimento do Brasil e dos demais países da América Latina:

1) O novo governo escolhe o caminho da conciliação com as Organizações Globo, para minimizar conflitos e poder seguir sem muitas turbulências com sua agenda política. Isso significa não mudar significativamente a política de radiodifusão.

2) Resolve tocar a sua agenda política para a radiodifusão sem pedir autorização para ninguém, o que significa, entre outras medidas: adotar as principais resoluções da Conferência Nacional de Comunicação, como proibir a propriedade cruzada, aproveitar a digitalização para democratizar o espectro radioelétrico, estimular o desenvolvimento de veículos de comunicação alternativos, fomentar a criação de um conselho para os profissionais da mídia e, óbvio, fazer valer a Constituição Federal nos artigos que tratam da Comunicação Social – 220 a 224.

No primeiro caso, poderemos esperar avanços tímidos no campo da comunicação. No segundo caso, uma revolução pode ter início. Seja como for, é fundamental alertar: qualquer caminho que seja adotado terá conseqüências diretas para toda a sociedade, considerando que a mídia tem poder suficiente para interditar debates ou impor as pautas de seus próprios interesses. E essas conseqüências virão para o bem e para o mal, e a depender da correlação de forças. 55 milhões de votos e as maiorias no Senado e na Câmara são bons auspícios. Mas uma Bolívia faz toda a diferença.

Observação: se os movimentos sociais, os partidos políticos, a academia, as associações de classe e demais organizações da sociedade civil ficarem esperando que o governo faça tudo sozinho, nada vai acontecer.



Fonte: Blog Fazendo Media (RJ)

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

A força da mulher

A força da mulher

Emiliano José

1 de novembro de 2010 às 11:55h

Uma vitória do povo brasileiro. A vitória de um projeto político. A vitória de uma mulher. Talvez essa possa ser uma boa síntese das eleições deste domingo. O Brasil que a nova presidente encontra não é o mesmo de 2003, quando Lula assumiu. É muito melhor. No entanto, os desafios que Dilma Rousseff tem pela frente são enormes, sobretudo o de continuar a luta para diminuir a desigualdade social que ainda nos afronta, preocupação que ela manifestou sempre durante a campanha.

Tenho convicção de que a democracia está se consolidando no Brasil. Que o povo brasileiro amadurece cada vez mais. Que a cidadania cresceu. Que a consciência da nossa gente não se submete mais com tanta facilidade aos chamados meios de comunicação de massa, cujo núcleo central é escandalosamente partidarizado. Que os grotões desapareceram de nossa cena política. Que não há mais donos de votos no País, especialmente para as eleições majoritárias. Que não se subestime mais a capacidade do nosso povo.

Creio que definitivamente caiu por terra a noção da existência de formadores de opinião situados na chamada mídia hegemônica. Ou, dito de outra forma, a importância desses atores diminuiu muito. O povo reage é diante das políticas públicas, do resultado efetivo da atuação do governo face à sua vida. Por que razão o povo brasileiro iria deixar de votar numa candidata que representava a continuidade de políticas que o beneficiaram tanto nos últimos anos e trocá-la por outro, que representava tão nitidamente políticas que o prejudicaram enormemente, como o governo Fernando Henrique Cardoso?

Penso muito no desprezo que alguns daqueles que se acreditam formadores de opinião tem pelo povo brasileiro. Não se conformam com a popularidade do presidente Lula, tentam desqualificá-lo o tempo inteiro, confrontando-se com índices de aprovação superiores a 80%. E embarcaram de forma resoluta na tentativa de desqualificação da candidata Dilma Rousseff, inclusive na sordidez que envolviam os falsos dossiês sobre sua atuação política ou, ainda, sobre o odioso caso da posição diante do aborto.

O povo brasileiro elegeu Dilma com muita consciência de que apoiava um projeto político. Há aqueles que atribuem a eleição de Dilma apenas ao inegável carisma do presidente Lula, e não há dúvida de que isso contou. Parafraseando Caetano Veloso, que referiu-se a Roberto Carlos dizendo a gente sabe a quem chama de rei, o povo sabe a quem chama de líder.

Lula é o maior líder político e popular da história do Brasil. No entanto, não fosse o extraordinário governo feito nesses oito anos, com resultados nunca antes vistos, para melhor, nas condições de vida do povo brasileiro, e certamente não bastaria o carisma do presidente Lula.

O carisma se afirmou por conta, sobretudo, das políticas públicas que foram levadas a cabo pelo governo, fruto de um projeto político pensado pelo PT, desenvolvido com mais consistência entre o final dos anos 90 e início do novo milênio. Claro que esse projeto encontrou um ator singular, de uma capacidade rara, de uma intuição política fantástica, e que soube, portanto, dar consistência a tudo que havia sido pensado pelo PT.

O partido compreendeu a complexidade do Brasil. Superou quaisquer tentações isolacionistas, procurou alianças amplas e pensou uma revolução de longo prazo, uma revolução democrática, que enfrentasse a profunda desigualdade social que nos afronta há séculos, que situasse a Nação de forma soberana na arena mundial. Desde o seu nascimento, o partido havia superado a dicotomia entre socialismo e democracia. E no projeto concebido mais recentemente certamente reafirmou para si mesmo que o processo de mudanças no Brasil se daria no leito democrático, do qual nunca abriu mão.

E pôde experimentar nesses oito anos, ao lado dos partidos aliados que chamou para o projeto, o quanto é possível mudar o Brasil, as condições de vida do povo brasileiro, no exercício pleno da democracia. Tirar quase 30 milhões da pobreza absoluta e elevar mais de 30 milhões da pobreza à classe média é o maior triunfo desse projeto. Foi nele que o povo votou.

E foi a vitória de uma mulher. A vitória da mulher brasileira. O ano de 2002 marcou um fato inédito na história do Brasil: a eleição de um presidente operário. Agora, o povo brasileiro produz outro fato inédito: pela primeira vez elege uma mulher.

Nunca se viu um ataque tão descabido, tão sórdido, tão abaixo da linha de cintura à figura da mulher como foi feito pela campanha do candidato adversário. Nossas ilusões nos levaram a pensar numa campanha de bom nível, face ao passado de Serra. Foi um grave engano.

Nunca o nível baixou tanto, e contra uma mulher. E procurando buscar nos recantos obscuros da alma da sociedade brasileira os elementos que suscitassem o ódio, que alimentassem os preconceitos, que suscitassem a raiva contra a mulher, contra todas as mulheres, e especialmente contra aquelas que eventualmente tivessem que recorrer ao aborto.

E a chamaram despreparada, e a chamaram teleguiada, e quiseram-na sem vida política, e a denominaram terrorista, como se terroristas fossem todos os que resistiram à ditadura. E semearam mentiras, e fizeram milhões de telefonemas clandestinos com toda sorte de calúnias contra ela.

E ela ganhou. Ganhou a grande mulher que é Dilma, que soube superar uma doença, que não se abalou com a sordidez que se alevantou contra ela, e se torna assim a nossa primeira presidente mulher. As mulheres do Brasil estão em festa. E os homens também. Há um caldo de revolução cultural na eleição dessa mulher. Os homens viverão uma experiência nova: a mulher que sempre soube cuidar dos filhos e da casa, e que nunca deixou também de viver intensamente a vida pública, irá agora dirigir os homens e mulheres do Pais, cuidar com imenso carinho de todo o povo brasileiro, acelerando o processo de distribuição de renda iniciado com tanta firmeza pelo presidente Lula.


Emiliano José é jornalista, escritor, doutor em Comunicação e Cultura Contemporâneas pela Universidade Federal da Bahia. www.emilianojose.com.br


Fonte: Carta Capital