domingo, 2 de maio de 2010

Primeiro navio genuinamente pernambucano

Retomada da indústria naval começa no Estaleiro Atlântico Sul, que lança ao mar petroleiro nesta sexta-feira

Micheline Batista
michelinebatista.pe@dabr.com.br

Nesta sexta-feira, dia 7 de maio, será lançado ao mar em Suape, com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o primeiro navio petroleiro construído no Brasil a ser entregue ao Sistema Petrobras após 13 anos.
Foto: Inês Campelo/DP/D.A Press
Mas não apenas isso. Será lançada ao oceano a primeira embarcação de grande porte produzida em Pernambuco em toda a sua história. Foram necessários mais de três anos desde a assinatura do contrato entre a Transpetro e um certo estaleiro que, por ser ainda virtual, gerava muita descrença.

Poucos acreditavam que o Brasil poderia retomar sua indústria naval, depois de mais de duas décadas de estagnação. E hoje temos a quinta maior carteira de encomendas do mundo. Poucos também acreditavam que os pernambucanos seriam capazes de construir navios. Felizmente, o que era sonho virou realidade. O João Cândido, um gigante de 275 metros de comprimento, quase dois campos e meio de futebol, finalmente deixará o dique seco do Estaleiro Atlântico Sul rumo aocais.

"Um país que não tem marinha mercante não é soberano. Por uma decisão do presidente Lula, estamos retomando a indústria naval em escala global e competitiva. O impossível só existe hoje, amanhã se torna real", comemora o presidente da Transpetro, Sérgio Machado, muitas vezes tido como um sonhador. A subsidiária da Petrobras, que só comprava na Ásia e gastava por ano US$ 1,2 bilhão no afretamento de navios a armadores estrangeiros, encomendou 49 petroleiros a estaleiros nacionais, viabilizando essa retomada. E já pensa em novas contratações.

O João Cândido, o Suezmax nº 1, é o primeiro dos 49 petroleiros a ficar pronto. Daí tanto simbolismo, tanta comemoração. O lançamento ao mar funciona como uma espécie de batismo, o ponto mais marcante no processo de construção de um navio. Durante a cerimônia, a madrinha quebra uma garrafa de champanhe no costado e deseja sorte à embarcação.

"Será um marco histórico. Como numa gestação, nosso primogênito estará nascendo", prevê Angelo Bellelis, presidente do Estaleiro atlântico Sul. O dique já terá sido inundado 24 horas antes e o João Cândido, então, flutuará até o cais onde receberá o acabamento e passará por testes, até ser entregue ao cliente em agosto próximo.

Madrinha - A Transpetro ainda não anunciou quem será a madrinha do Suezmax nº 1, só sabemos que não será mais a ex-ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, hoje pré-canditata à presidência da República. Já o nome João Cândido foi escolhido em homenagem ao marinheiro negro, filho de ex-escravos, que há cem anos liderou a Revolta da Chibata. O movimento, iniciado no Rio de Janeiro no dia 22 de novembro de 1910, pleiteava a abolição dos castigos corporais na Marinha de Guerra.

O Almirante Negro, como ficou conhecido, foi banido da Marinha e viveu precariamente, trabalhando como estivador e descarregando peixes na Praça XV, no Centro do Rio. Discriminado e perseguido, faleceu em 1969, aos 89 anos de idade. Retorna agora em grande estilo, emprestando o nome a um petroleiro suntuoso, que custou cerca de US$ 120 milhões (aproximadamente R$ 210 milhões).

O passo a passo da construção


- As chapas e perfis de aço chegam de navio no cais interno (1) e são armazenados no pátio de estoque (2)

- Depois seguem para as oficinas de processamento e panelização (3)

- A etapa seguinte é nas oficinas de montagem de blocos retos e curvos (4)

- Prontos, os blocos seguem para o setor de jateamento e pintura (5)

- A montagem dos blocos ocorre no dique seco (6)

- Após a finalização da montagem, o navio segue para o cais (1), onde recebe o acabamento

As etapas de construção do João Cândido

Contratação
O contrato para construção de 10 navios Suezmax foi assinado entre o EAS e a Transpetro em 30 de janeiro de 2007

Corte das primeiras chapas
Cerimônia de corte das primeiras chapas de aço ocorreu no dia 5 de setembro de 2008

Batimento de quilha (início da edificação)
A edificação do Suezmax 1 começou com a colocação do primeiro bloco de aço dentro do dique seco, no dia 11 de setembro de 2009

Lançamento ao mar
Cerimônia vai acontecer no dia 7 de maio de 2010. Na ocasião, o Suezmax sairá do dique e irá para o cais de acabamento. Antes, será estourada uma champanhe em seu casco, simbolizando o batismo

Entrega
A entrega do Suezmax 1 à Transpetro está prevista para agosto de 2010, após passar por todos os testes.

(Fonte: Diário de Pernambuco)

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