domingo, 18 de outubro de 2009

Brasil / Solidariedade: Veja histórias de mães que dão exemplo de solidariedade e coragem

Brasil / Solidariedade

18/10/09 - 21h01 - Atualizado em 18/10/09 - 21h32

Veja histórias de mães que dão exemplo de solidariedade e coragem
Jovem amamentou menina desconhecida durante incêndio em favela.
Trajetória de Flordelis dos Santos, que adotou 46 crianças, virou filme.

Do G1, com informações do Fantástico

Uma doméstica de 22 anos. Uma ex-professora de 48 anos. Uma mulher com um carrinho de bebê na estação de trem, da qual nem o nome se sabe. Em comum, todas elas têm o instinto materno e histórias emociantes e exemplares.



Veja o site do Fantástico

No meio da correria durante um incêndio em uma favela de São Paulo, no domingo passado, 11 de outubro, alguém se lembrou das pessoas mais indefesas. Entre a confusão, a empregada doméstica Janaína Miranda parou para amamentar a pequena Beatriz, uma criança que ela nem conhecia. “Não, eu não conheço. Dá dó de ver criança chorando com fome. Eu já passei por isso”, disse ela no dia.

A pequena Beatriz, de 6 meses, é filha de Érica do Val: “Quando a gente avistou o fogo, todo mundo ficou desesperado. As pessoas do prédio ligaram as mangueiras para molhar os barracos para ver se não chegava até onde a gente morava, mas não teve jeito. Quando eu dei a volta o fogo já estava do lado da minha casa", lembra ela.


saiba mais
PMs retiram mãe e criança de casa em chamas em SP Mãe de menino agredido por colegas no interior de SP quer trocar filho de escola Famílias atingidas por incêndio em SP recebem uma tonelada de doações Saiba como ajudar as famílias da favela atingida por incêndio em SP Voluntário conta por que arriscou a vida para salvar mulher de enxurrada
--------------------------------------------------------------------------------
Janaína, a mulher que deu de mamar, tem 22 anos e nem morava na favela. Vive um conjunto habitacional logo ao lado. “Na hora que eu saí, a minha vizinha falou: 'Janaína, tem alguma favela pegando fogo'. Avisei as outras pessoas daqui e falei: 'Vamos para lá, vamos ajudar, vamos tentar apagar o fogo'."

Começava assim uma história de carinho no meio da tragédia. Uma semana depois, em meio às cinzas da favela, ela conta que teve que enfrentar o trauma de um outro incêndio, que viveu quando era criança. “Quando eu tinha 7 anos de idade, meu irmão morreu dentro do barraco quando era bebezinho. Por isso que eu não gosto de ver essas cenas”, lembra Janaína.

Enquanto os barracos queimavam, Janaína procurou primeiro os amigos que moravam na favela: “Eu só sosseguei depois que eu achei eles. Foi na hora que apareceu a bebê que estava com fome."

Janaína, que tem quatro filhos e está grávida, se ofereceu para alimentar a menina, que chorava. “Ela ficou chorando e aquilo começou a me apertar. Eu olhava, disfarçava. Eu falei: 'Você quer que eu dê de mamar para ela? Eu tenho leite. Eu amamento'. Mas ela ficou 'meio assim'. Eu falei: ‘Não, me dá que eu amamento'. Ela só parou de chorar quando eu coloquei o peito na boca dela."

Érica e Janaína se reencontraram depois do incêndio. No dia do reencontro, quando viu a pequena Beatriz, Janaína sorriu. E ganhou um agradecimento de Érica: “Eu queria agradecer, dizer muito obrigado por você ter esse ato de amor [...]. A Beatriz quer agradecer né, Bia? Muito obrigado, né?”, diz a mãe da menina.

Naquele dia, no meio do incêndio, havia outros bebês esperando pelos pais. A pequena Beatriz foi a primeira, mas não a única criança a ser amamentada pela Janaína. “Dei [de mamar] a cinco ou seis crianças. [...] Não estou muito bem lembrada”, lembra a empregada doméstica.

A empregada doméstica Janaína, que havia combinado de trabalhar no domingo à noite, faltou e acabou demitida pela patroa. “Ela falou: ‘Arrumei outra pessoa, não precisa, e eu vou viajar’”.



Mesmo assim, Janaína não se arrepende: “Foi gostoso pegar ela [Beatriz] no colo, fora as outras crianças que eu peguei para dar de mamar naquele dia. Eu me senti a pessoa mais importante do mundo, nos poucos momentos que eu fiquei com eles."



50 filhos

Flordelis dos Santos, uma ex-professora, de 48 anos de idade, criada na Favela do Jacarezinho, no Rio de Janeiro, é uma outra mulher que é exemplo de solidariedade. Ela tem 50 filhos, 4 biológicos e 46 adotados. A vida dessa mulher acaba de virar filme.

Flordelis, o marido Anderson e os 50 filhos moram há um ano e meio em uma casa em Niterói, no Rio de Janeiro. O aluguel é pago por dois empresários, sensibilizados pela luta dessa mãe. Há 18 anos, quando ainda morava numa favela, Flor começou a adotar adolescentes envolvidos com drogas e crianças abandonadas pelos pais.

“Na comunidade, eu comecei a ver um monte de coisas difíceis acontecendo e o que mais me despertou foi a reação das mães. As mães sofrem muito quando os filhos entram para o tráfico. Muitas se dão por vencidas, ficam cansadas de lutar e acabam desistindo. Eu decidi sair na comunidade atrás dos meninos viciados”, conta Flordelis.



Em uma única noite, em 1994, depois de uma chacina na Central do Brasil, ela recolheu e levou para casa 37 crianças. Foram muitas as dificuldades de Flordelis dos Santos para manter a guarda de tantos filhos adotados. Em 1995, enfrentou oito processos do juizado de menores. "Eu decidi enfrentar tudo e todos. Só que eu tive que fugir, porque tinha um mandado de busca e apreensão das crianças e prisão", lembra ela.



A batalha desta mulher é o tema de um filme que estreou esta semana em todo o Brasil, “Flordelis, basta uma palavra para mudar", dirigido por Marco Antonio Ferraz e Anderson Corrêa.



Artistas famosos ficaram tão comovidos com a história dessa mulher que se ofereceram para participar do filme sem nenhuma remuneração. É o caso de Alinne Moraes, que faz o papel de Vanessa dos Santos, uma das filhas de Flor, que morreu da Aids em 2007, com apenas 19 anos.

“Num momento que ela estava já terminal, [...] ela me pediu para cantar. Eu cantei para ela. Ela não estava falando mais e conseguiu gritar. Deu um grito, depois que já estava sem força para falar, e disse: ‘Mãe, não esquece que eu te amo’."



Outras histórias

Um segundo de descuido e o anúncio de uma tragédia. As imagens de um carrinho de bebê caindo nos trilhos de uma estação de trem na Austrália, assustaram o mundo esta semana. A mãe tenta correr quando vê o carrinho deslizar, mas o trem chega. Parecia o fim, mas aconteceu um milagre. A criança de 6 meses sobreviveu graças ao cinto de segurança do carrinho e ao espaço amplo entre o trem e os trilhos.

Mãe e filho, que não foram identificados, seguiram para o hospital. A criança sofreu apenas um galo na testa.

Em 2005, na Coreia do Sul, outra mãe passou por sufoco semelhante. Ela tenta entrar com um carrinho de bebê no vagão do metrô, mas a porta fecha. Depois, tenta soltar o carrinho e não consegue. Ela tira a criança no momento em que o trem começa a andar, mas a roupa dela também está presa e a mulher é arrastada. Apesar do susto, mãe e filha não se machucaram.

Mês passado, no Espírito Santo, cabeleireira Ioná França também colocou à prova seu instinto materno. Assaltantes renderam o carro da família. Todos desceram, menos a filha de 6 anos.

“Coisa de segundo. Eu avistei a minha filha mais nova agachada. Eu me enfiei dentro do carro para poder resgatar. Me joguei com tudo. Meu corpo estava metade para dentro e a metade para fora. Foi onde ele andou, prosseguiu com o carro em alta velocidade e eu fiquei agachada no chão. Minha filha veio rolando. Na hora, realmente, a gente não pensa na nossa vida, não pensa em mais nada. É somente o querer resgatar a filha, o amor mesmo, o instinto de mãe”, conta.

“Do ponto de vista fisiológico, diante de uma situação de risco, uma reação se dá em todo o corpo. Tudo isso é amplificado por alguma coisa que se denomina o amor ou sentido de preservação da própria espécie e de si próprio. Nós arranjamos forças que não supúnhamos que tivéssemos, entende?”, explica o psiquiatra João Alberto Carvalho.

Foi o que fez a faxineira Maria Jerônima Campos, de Franca, interior de São Paulo. Mesmo sem saber nadar, ela pulou em um poço para salvar o filho. O desespero dela foi registrado por um fotógrafo profissional e as imagens viraram notícia no Brasil inteiro.



“Tem hora que eu fico me perguntando onde que eu achei tanta força e coragem para fazer isso. Na hora eu não pensei nada, só pedi a Deus que salvasse meu filho”, diz ela.



Leia mais notícias de Brasil

Nenhum comentário:

Postar um comentário