quarta-feira, 30 de março de 2011

O evangelho de Pilatos

O evangelho de Pilatos



23/03/2011

Por Guilardo Tavares de Freitas



Sou um leitor voraz da Bíblia. Há coisas nela que não entendo e por não fazê-lo alguns estudiosos negam sua veracidade. Leio-a e leio até os comentários a favor e contra ela. Sua leitura não me tem feito mal algum. Até quando esta me desmascara mostrando quem eu sou me faz entristecer e ao mesmo tempo me dá esperança de que há jeito para mim. Dizem que “Pau que nasce torto morre torto” - o que não é bem assim, pois estou sendo restaurado aos poucos pelas mãos do Restaurador Supremo e não pelas sucessivas reencarnações.

Após algumas leituras descobri que não foram escritos só quatro evangelhos (Mateus, Marcos, Lucas, João), mas muitos outros (Tomé, Maria Madalena, Judas, Felipe etc.). Inclusive, o livro e o filme “O Código da Vinci” foram baseados no Evangelho de Felipe, o qual, dizem alguns estudiosos, a Igreja os escondeu, pois a revelação do mesmo abalaria a fé em Cristo pois o mesmo seria desmistificado (como se a fé que se deposita nele pudesse ser abalada por essas “tolices intelectuais”). Mais recentemente, aprendi sobre o “evangelho de Pilatos”. Alguém pode perguntar: “Existe esse evangelho?” Eu também não o conhecia. Não foi escrito por nenhum discípulo dele, mas está inscrito no coração de algumas pessoas (por isso escrevi evangelho, com letra minúscula) que dizem ter tido ou não uma experiência de conversão.

Vou começar usando a linguagem dos que duvidam da existência histórica de Jesus (se Jesus é um mito, prefiro aprender com ele do que com os personagens reais como Hitler, Marx, o Dalai Lama, José Sarney etc.). Quando o mito Jesus foi julgado pelo mito Pôncio Pilatos, que era governador da Judéia, representante do mítico Império Romano de quem herdamos o mítico Direito Romano ainda hoje estudado nas míticas universidades européias, o excelentíssimo governador escreveu na cruz as seguintes palavras: “IESUS NAZARENUS REX IUDORUM”. Tradução: “JESUS, NAZARENO, REI DOS JUDEUS”.

Os sacerdotes do Judaismo disseram: “Não diga que ele é o rei dos judeus. Diga que ele disse que era o rei dos judeus”. Pilatos, por sua vez, respondeu com autoridade: “O que escrevi, escrevi”. Claro, como governador ele podia fazer isso, pois os judeus eram colônia dos romanos. Um livro que sugiro como leitura é “O drama de Pilatos”.

Onde está o evangelho de Pilatos? Repito: inscrito no coração de algumas pessoas. Pessoas que tem o rei na barriga, cujo deus é o ventre. Para quem a humildade é algo estranho e a humildade de Jesus “foi uma prova de sua fraqueza”. Ele, que disse a Pilatos que este só era quem era porque Deus assim o quis, se submeteu a autoridade temporal do mesmo, pois tinha uma autoridade eterna (meu reino não é deste mundo) e Pilatos não sabia disso. Há pessoas que dizem o que querem, não respeitam os outros e encarnam a “divindade” de Pilatos. Eu, de minha parte, prefiro a humildade temporal de Jesus como não houve em nenhum outro ser humano e reconhecer sua autoridade eterna, do que assumir o poder temporal de Pilatos reconhecendo sua eterna condição de um simples mortal como todos os seres humanos. Pilatos, hoje, é apenas um personagem da história. Jesus, hoje, é aquele Ser indefinível que reina no transcendente invisível (Eu sou de cima). Fiquemos com Quem reina e não com quem já perdeu a majestade. Sigamos o homem Jesus que não temia o poder temporal dos homens do que a Pilatos (de saudosa memória) que por sua vez temia até uma rebelião dos frágeis judeus a quem dominava. Não sigamos o exemplo dos que sofrem da síndrome de Pilatos que se dizem “poderosos” apenas por terem no seu coração uma pseudo-autoridade e que acham ser eterna embora sejam eles mesmos, mortais.

O evangelho de Pilatos ensina que somos poderosos e podemos nos sobrepor sobre quem quisermos, segundo um dos seus apóstolos atuais, o ditador Muamar Kadafi. É a continuação do mítico jardim do Éden com a transferência de poder (Sereis como deuses). Os entendidos dizem que o relato do jardim do Éden é mito, mas a megalomania dos que vivem os ensinos do evangelho de Pilatos e as conseqüências disso ao longo da história e no mundo árabe atual não tem nada de mitológico. O evangelho de Jesus é a antítese do evangelho de Pilatos. O primeiro, ensina a humildade presente como base para a ascendência futura Nele. O segundo, ensina o orgulho presente como base para uma suposta ascendência futura em nós mesmos (futuro, esse, desconhecido para nós) esquecendo que o orgulho presente já é uma decadência.



Guilardo Tavares de Freitas é Graduado em Letras pela UFPB, estudante de Filosofia e Apologética pela Faculdade Saber e Fé, Jundiaí-SP; Bacharelando em Teologia pelo ICP – Instituto Cristão de Pesquisa; professor titular do Instituto Teológico Savoy, em Mangabeira, João Pessoa-PB; professor de História do Cristianismo, no Seminário Sertanejo da JUVEP, em Itaporanga e em Sousa-PB.

Leia ENTREVISTA completa de Guilardo Tavares de Freitas após Encontro do Caminho da Graça, em Brasília



Leia agora outros textos de Guilardo Tavares de Freitas:

- Nietzsche e a morte de Deus – Deus e a morte de Nietzsche (O mais lido)

- O que eles disseram

- Einstein e a árvore do conhecimento do bem e do mal

Leia também:

- VOCÊ, seguidor ou discípulo?

- O que é confiar em Deus? “a partir de uma reflexão cristã”

- Ser e Não-Ser – Reflexões sobre a existência de Deus

no site http://www.paraibavip.com.br/

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Ana Neire - Belo texto. A humildade - base do ensinamento de Cristo, não condiz com a prepotência dos falsos e frágeis ¨Deuses¨

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